segunda-feira, 11 de março de 2024


 

 

ZELOS I – 7 MARÇO 24

JOAN COLLINS, em pose ousada para a época.

 

É muita pretensão querer que o teu olhar

somente a mim envie para o interior da mente;

sei que há fantasmas de aparição frequente,

às vezes penso até com eles digladiar...

Nesses teus sonhos quem poderias lembrar,

que afirmas esquecer inteiramente?

Nada objeto ante os fantasmas do presente,

sei bem que deles não preciso me recear.

 

Mas aqueles a quem viste no passado,

por pouco fosse ou mais frequentemente,

algum cubículo aguardarão no teu pensar

e quiçá reflexos aindam surjam de teu lado;

caso ainda os veja, irei pensar amargamente,

por que razão ainda os posso observar?

 

 ZELOS II

 

Por mais que em ti confie integralmente,

há certa dúvida que vem-me perturbar,

especialmente quando algum vens mencionar,

sua memória a despertar bem diligente:

em teu leito de morte, finalmente,

qual será o nome que poderás chamar?

Somente eu estando a te cuidar,

de alguma forma retornarão para o presente?

 

Eu não responderia, sem dúvida qualquer,

se por acaso algum deles chamasses,

deixaria bem clara a minha identidade,

de quem te acompanhou, sem ter sequer

oscilação, a cada vez que me buscasses,

mas te serviu com a maior fidelidade.

 

ZELOS III

 

Posso entender os nomes de tua infância,

que tanta vez insististe em repetir,

contudo os nomes que vieste a descobrir

anos depois, vem-me causar beligerância,

repetidos para mim com redundância,

sem que chegasses no meu próprio a insistir.

Com qual vigor vem minha presença consistir,

quanto em tua mente eu tenho substância?

 

Contudo ainda sei que é uma vasta pretensão

o meu desejo que me devore o teu olhar,

que assim teu cérebro possa inteiro alimentar

e então me basta poder tomar-te a mão,

entre meus dedos, no teu instante milenar,

até sentir tua derradeira pulsação!...

 

ESTRÓBILOS (CONES REPETIDOS) I – 8 MARÇO 2024

 

Se há uma coisa que começa a me cansar

são os caprichos da rede, que só faz

o que melhor conveniência hoje lhe traz,

sem com sua audiência se preocupar;

com propagandas nos fica a assoberbar

e com vírus e spams não nos dá paz

e infelizmente só nos traz notícias más,

meus interesses só podendo atrapalhar.

 

Talvez seja isso apenas consequência

da quantidade de mensagens tolas,

de blogs e influenciadores complicados,

sempre a se impor para quem tem complacência

com opiniões e imagens, tantas colas

que os canais deixam enfim engarrafados.

 

ESTRÓBILOS II

 

Não tenho tempo para correspondência,

bastante claro que isto me vai prejudicar,

muitos contatos deixarei de elaborar,

envolto apenas em minha própria essência.

Apenas versos transmito em minha ardência,

temo bastante já te estarem a cansar.

Por que afinal, deverias me apoiar,

de minha torre de marfim nessa insistência?

 

Mas de algum modo dou ainda atenção

aos noticiários que entremeiam comerciais,

sem estes as redes nem existiriam mais,

só me perturba essa insistência sem noção

de cem ofertas que nunca aceitarei:

fecho meus olhos e ainda assim as escutarei.

 

ESTRÓBILOS III

 

Pois me arrependo de insistir assim

em retomar minhas antigas posições.

Já quanta vez repeti anotações,

sem nova ideia a apresentar-te enfim.

Tenho certeza de que preferirias um jardim

de perfumes de amor e sensações,

de sentimentos no enredar das emoções,

puras e níveis como um copo de jasmim.

 

Porém perdoa-me por esta iniquidade

em expressar desgosto e desenganos,

sem gentileza de responder a um comentário;

contudo afirmo, na maior sinceridade

que verdadeiros são afinal os meus afanos,

por mais vertidos em sonetos perdulários!

 

O SOM DAS JUJUBAS I – 9 MARÇO 2024

 

Há cores doces brilhando do meu lado,

até o negror lembra sorvete de limão,

todo o brancor se avermelha em coração,

o céu inteiro de um azul caramelado,

da praia a areia em nuançar acidulado

e cada onde purpurina em profusão,

não só a prata que ali todos verão,

não só o verde a quebrar-se no espumado.

 

De cada flor vejo a cor a me cantar,

seu canto doce em intenção que me atraía:

é doce a flor ou tem a  cor do canto?

Cada corola em meristema singular,

até me perco a contemplar a luz que cria,

seu som de cor para emular meu pranto.

 

O SOM DAS JUJUBAS II

 

A melodia sempre roda em cada cor

e cada cor traz sua própria melodia,

o arco-íris a rutilar em harmonia,

cada cor nessa doçura do calor,

porque é doce a comissura desse amor,

que canta em cor na saga da ironia,

a cor é um canto de arcana nostalgia,

sete notas no pentagrama desse albor.

 

Sete cores na doçura de algum som,

sete sons no corolar de cada estrela,

sete sabores a perfumar meteorito,

sete doces no fragor de cada tom,

sete tons nesse sorvete que revela

sete perfumes a soprar desde o infinito.

 

O SOM DAS JUJUBAS III

 

Assim eu ponho cada nota em minha boca

e saboreio lentamente cada cor,

o meu olfato faz-se doce em tal sabor,

minha audição para a doçura então se aloca,

que o branco assim é como nívea touca,

enovelada em sete gramas desse olor,

ainda o negror a renegar todo o valor

que a galeria de cores ali enfoca.

 

Que seja assim, cada um com seu perfume

e cada som qual colmeia palpitante,

cada abelha a zumbir farinha e mosto

e fico eu a ondular qual vagalume,

no som e cor e no perfume delirante

do beijo antigo de que ainda sinto o gosto.

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