segunda-feira, 12 de outubro de 2020

 

 

A DANÇA DA MARMOTA – 5 JUN 2019

(Pequeno roedor de rabo curto, que mora em túneis nas pradarias.)

(Lenda dos ameríndios Cherokee)

 

A DANÇA DA MARMOTA I

Muito tranquila, a marmota descansava,

Enquanto se aquecia à luz do sol;

Já comera o suficiente no arrebol

E pela digestão ela aguardava...

 

Mas de repente, notou se aproximava,

Com os olhos reluzindo qual farol,

Seus dentes pontiagudos como anzol,

Seu predador, um lobo, em fome brava!

 

Assustada, a marmota quis fugir,

Mas estava muito longe de sua toca

E do outro lado, já outro lobo havia!

 

Para a direita, outro estava já a assistir,

Mais um à esquerda, babando pela boca,

Uma alcateia a seu redor se via!

 

A DANÇA DA MARMOTA II

Contou os lobos, bastante apavorada:

Pois eram sete, uma família inteira!

A situação em nada lisonjeira,

Como escapar, se estava bem cercada?

 

“Estás gordinha, marmota!” A voz malvada

Sibilou entre os dentes da primeira,

pois era a loba-mãe, uma alpha sobranceira.

“Serás nossa refeição bem preparada!”

 

Rosnando, os sete lobos a cercaram.

“Não vou fazer as minhas orações?”

“Seremos nós a dar ação de graças!...”

 

Mas qual seria o primeiro? Ainda hesitaram,

Bocas abertas em vermelhas saudações,

Ordem havia constante nas suas caças...

 

A DANÇA DA MARMOTA III

“Nananinão!” – a marmota protestou.

“Devem fazer igual que faz a gente

Quando uma boa comida se apresente:

Dançam alegres pelo bem que lhes chegou!”

 

Achando graça no que ela falou,

Os sete lobos, imediatamente,

Começaram a dançar, alegremente,

Batendo os pés, cada um deles sapateou!

 

Era uma ideia até bastante divertida!

A marmota lhes fugir não poderia,

Por que então não cumprirem tal ritual?

 

Já antecipavam a inicial mordida,

Mas a marmota lhes disse não servia:

“Vocês estão dançando muito mal!”

 

A DANÇA DA MARMOTA IV

“Já que não sabem, eu vou-lhes ensinar

E terão de os passos certos aprender,

Eu vou cantar para melhor dizer,

Coreografia é o jeito certo de dançar!”

 

“Eu canto as ordens e vocês vão escutar,

Sempre dançando antes de me comer,

Mas dando voltas em alegria de viver

E às minhas palavras atenção deverão dar!”

 

“Quando eu cantar Yahi, vocês devem se afastar,

Quando em cantar Yahu, então podem chegar perto,

Entenderam as palavras do libreto?”

 

Os sete lobos decidiram concordar,

Porque a marmota tinha destino certo

E bem podiam lhe mostrar algum afeto...

 

A DANÇA DA MARMOTA V

Afinal, ela aceitava o seu destino

E nem ao menos tentava se escapar...

Por que, então, não deveriam dançar?

E a marmota entoou, com voz de sino:

“Ha wi ya hi,

Ha wi ya hi,

Depressa agora,

Dancem aqui!”

 

Sua boa vontade foram os lobos demonstrar,

E para longe se puseram a dançar,

Mas antes que pudessem desconfiar,

“Ha wi ya hu!” – a marmota foi cantar

 

A esse sinal, toda dança foi parar

E os sete lobos foram chegando perto.

Mas antes que a pudessem agarrar

A marmota gritou de peito aberto:

“Ha wi ya hi,

Ha wi ya hi,

Depressa agora,

Dancem aqui!”

 

E os sete lobos tornaram a se dançar,

A pouco e pouco mais longe se afastando:

“Ya hi!” a marmota não parava de gritar,

 

Mas quando já estavam desconfiando

“Ha wi ya hu!” – a marmota foi cantar

E a alcateia veio já se aproximando!

 

A DANÇA DA MARMOTA VI

Mas antes que a pudessem alcançar,

“Ha wi ya hi!” – cantou ela novamente

E a alcateia foi de novo se afastar,

Pensando estar a imitar dança de gente!

“Ha wi ya hi,

Ha wi ya hi,

Depressa agora,

Dancem aqui!”

 

“Ha wi ya hu!” – cantou ela de novo,

Veio a alcateia já resfolegando,

Mas quando já chegavam, de renovo

Foi a canção novamente se entoando:

“Ha wi ya hi,

Ha wi ya hi,

Depressa agora,

Dancem aqui!”

 

E assim foi a marmota repetindo,

E os lobos tolamente obedecendo;

Quando a impaciência ela via começar

 

Outro “Yahu!” novamente iam ouvindo,

E quando o fim já estava aparecendo.

Mais um “Yahi!” a marmota ia cantar!

 

A DANÇA DA MARMOTA VII

Só que a marmota se movia lentamente

Na direção de uma árvore caída,

Sem que os lobos percebessem, realmente,

Que ali sua toca achava-se escondida!

 

Mais uma vez ela cantou o “Yahi!”

Dos lobos foi-se o círculo alargando,

Mas dessa vez ela não parou ali,

Até que junto de sua toca foi chegando...

 

Então gritou “Yahu!” última vez

E na sua toca foi-se já enfiando,

Mas o seu rabo ficou ainda de fora!

 

E um lobo o abocanhou na mesma hora

E a puxou com toda força! -- E em sensatez

Já outros dois o estavam ajudando!

 

EPÍLOGO

Mas a marmota se afirmou numa raiz,

Enquanto os lobos a puxavam para fora

E embora a dona se escapasse como quis

Seu pobre rabo rebentou-se, sem demora!

 

Assim os lobos só ficaram com sua fome

E a marmota espertalhona se salvou!

Mas se ela encontra um outro lobo, logo some,

Pois desde então seu rabinho se encurtou!


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