quarta-feira, 31 de março de 2021


 

 

HARDSHIP – 22 April 2006

 

"Love will find a way".  If He doesn't,

Is not intense enough, is but a whim,

A shadow, a mistake, a sham, a dream,

A dead-end, alas, something we mustn't

 

Follow for long, except when the lust

Sets us together, man and wife,

And then enjails the both of us for life,

In that folly law pretends to be just.

 

However, if you really for me cared,

You'd curtail your absences; and shared

Some of your scarce, precious time with me.

 

It could be hard, but if you felt the urge,

All else you would, with no regard, purge,

Offset by pleasure, as hard as it might be.


ON ILLUSTRATION THE  MIDDLE-AGED

ANGELA LANSBURY 

 

 



 

DESCARTE I – 27 mar 2021

 

Eu nem devia sequer mandar mais versos:

amor se foi inteiro, só me resta a nostalgia,

integumentos de sangue, capilares de poesia

vilosidades dos gânglios, tumores reconversos,

meus pensamentos neurais em redes mil dispersos

a brotar do paladar, que o olhar não desconfia,

estão mudos meus ouvidos, abstinência fria,

longos anos de plantio em metáforas conversos.

 

Ainda assim eu temo que minhas mágoas interpretes

quais pedidos desse amor que o coração deseja,

não saem gritos de paixão da boca costurada;

nem sequer te conheço, meus versos em confetes

são hemácias de meu sangue em harpa cadenciada

enquanto minha saliva tão só o teclado beija.

 

DESCARTE II

 

Per aspera ad astra, nos quer velho ditado,

em verso tão antigo, por Romanos consagrado

já há vários milênios, que enfim foi abraçado

pelos pais fundadores de escola militar;

pela aspereza sempre podemos alcançar

as máximas alturas, estando lado a lado

com os mais bravos e fortes, assim escalonado

o abismo do estelar em sendeiro descartado.

 

Contudo, embora tendo também minhas incertezas,

eu prossegui em frente, na ardência suspirando,

mas em cada precipício eu sei que fui deixando

parte integrante e bem real de minhas certezas,

na construção das pontes contra o olvido,

até que o resto final de mim tenha perdido.

 

DESCARTE III

 

Sempre é possível recobrar um fragmento

e nele achar alguns versos escondidos,

embora ungidos por um forte linimento,

para azeitar o molinete dos vencidos,

rodando as carretilhas em algum padecimento,

para puxar a mim mesmo, em gestos comedidos,

para fora dos poços de incerto julgamento,

as metáforas tomando de sonhos já perdidos.

 

Ao emergir do poço, estou no Mar Oceano,

longe das Ilhas dos Bem-Aventurados,

em que um dia aportara São Brandão;

mas a vaga não escorre para o turbilhão,

ela me leva ao tabuleiro dos tornados

e ali restaura o que sobrou da inspiração.

 

DESCARTE IV

 

Houve tempo que escrevia as linhas percutidas

em qualquer lugar em que estivesse de passagem,

qualquer reflexo a projetar nova miragem,

qualquer momento de minhas penas repetidas,

até trazia comigo, amarfanhadas e sem vidas,

umas adagas de papel para escalpelar paisagem,

as unhas me serviam e cozinhava a beberagem

na hemoptise de ideias que dançavam incontidas.

 

Guardei tantos milhares de cigarras malferidas

no fundo de algibeiras, esperando aceitação,

pirilâmpicos pendores, sem qualquer destino certo

e só as recobro agora, sem canto, ressequidas,

na diálise do papel, nenhum dom do coração,

sangria de minha alma, a fluir do peito aberto.


terça-feira, 30 de março de 2021


 

APRIL FOOL -- April the 1st., 2006

 

A fisherman draggin' ashore his empty net,

That's what I am, after hours travailin',

My heart tried, my body is all a-wet

Of sorrows thousand and hopeless a'waitin'.

 

Yeah, a fisherman, after years castin'

And rowin' abroad for the ransom that

My life would change, anglin' and baitin'

Until my hands bled; and then i'd squat

 

On that empty beach spanned by empty eyes,

All hope broken shells, yet nought a fish,

A crab, a lobster, not even the smallest

 

Shrimp to chew on, for all my sighs;

And realize then ---- that for a conquest,

Spilt salty blood after an empty wish...


FREYYA -- THE NORSE GODDESS

 


 

 

 PEAN POR MIM I (*) – 26 MAR 2021

(*) Canto Fúnebre

 

Não sei de onde tirei este meu sonho,

dominado pela plena insensatez;

reviso em vão os cantos em que ponho

recordações revoltas de aridez.

 

Mirando o inconsciente, vez por vez,

não encontro o sonho que se perdeu no antanho;

como um tolo fatalmente já me vês,

a me esforçar empós ideal tamanho...

 

Nunca fui solipsista, o mundo

solidificou-se em crua realidade,

forçando sua firmeza em profusão;

só brota então o meu ideal profundo,

singular de elasticismo sem maldade,

da disritmia tenaz do coração.

 

PEAN POR MIM II

 

Não tenho antepassados espanhóis, porém

os tenho catalães, bascos, galegos,

de Trás-os-Montes, Portugal, também,

mas não tenho castelhanos nem manchegos.

 

Meus ancestrais me fitam de olhos cegos,

envoltos em mortalhas, quando as têm,

transformados em ossos seus sossegos,

caixões vazios que nem mais cinzas retêm.

 

Outros vieram de locais distantes,

Suiça, Irlanda, França e Alemanha,

Itália e Líbano, dos Bálcãs e nem sei

quais outros pontos mais, os visitantes

destes meus sonhos, deneás em artimanha,

dos mais antigos que eu nunca saberei.

 

PEAN POR MIM III

 

Porque a lâmina descende e o sonho corta,

em talho limpo e fino, sem demora,

não mais o suserano, como outrora,

vassalo agora só da morte.  A foice torta

 

desfaz o ideal, toda esperança importa,

na asserção executiva dessa hora;

tomba a cabeça do sonho que se estoura

contra o assoalho do real e o corpo entorta.

 

Resta agora recolher neste ataúde

da realidade as quimeras recortadas,

que ainda estremecem em réplica de vida;

que ainda morto, o sonho ao mundo ilude,

pálidas sejam as bênçãos degoladas,

suas mãos atadas por ilusão perdida.

 

NA ILUSTRAÇÃO PATRICIA NEAL,

ATRIZ DA ÉPOCA DE OURO DE HOLLYWOOD

segunda-feira, 29 de março de 2021


 

 

FAIRYDOM – April 24, 2006

 

To each man comes the transcendence

His heart seeks...  For a long, long while,

It was religion... But then the wile

Swayed to the past, to the essence

 

Of mythology, and then to love,

Love requited, as much as love forlorn,

Then to the science, wet, newly-born,

Then the crowds politics would move.

 

Then emotion rebelled, and thence

Was brought forth New Age; and been

The Goddess to worship, the stars to query.

 

Yes, to every man the transcendence

He seeks...  To me, such would be the fairy,

Whom until now I have never seen.


VINTAGE COSETTA GRECO.


 

 

 

NON SUM QUALIS ERAM I (*) – 25 MAR 2021

(*) Não sou mais como eu era.

 

Embora seja ainda forte, nunca fiz

musculação, nem busquei qualquer esporte;

os músculos que trago no meu porte

ganhei pelo trabalho que condiz

com o uso do machado e da pá, que quis

utilizar para terra e lenha ao corte;

usei enxada e picareta e toda sorte

desse trabalho que braçal se diz.

 

Ao mesmo tempo, desenvolvi a mente,

qual no ditado, que é “sã em corpo são”,

sem que uma coisa a outra me impedisse;

foi assim que vivi, frequentemente

a trabalhar com a mente e o coração,

conquanto em versos a minha alma abrisse.

 

NON SUM QUALIS ERAM II

 

Eu sempre fui artista e os companheiros,

colegas e outros homens preferiam

esportes, futebol ou contariam

de seus sucessos reais ou verdadeiros.

Eu nunca fui assim.  Os meus sendeiros

buscaram livros, poemas, se perdiam

pelas pinacotecas e museus, corriam

as bibliotecas de velhos mosteiros...

 

E muito embora tenha tido meus seis filhos,

sinto ter mais em comum com as mulheres,

com quem possa partilhar dos pensamentos,

não que aprecie modas, memes e outros trilhos,

porém amo crianças e há prazeres

bem femininos nos meus sentimentos...

 

NON SUM QUALIS ERAM III

 

Sempre me dei melhor com as mulheres

do que com homens – bem poucos amigos,

desses sinceros para quaisquer perigos

eu encontrei pelo mundo em meus viveres;

que namorador me declare não esperes,

pois nunca o fui, desde meus dias antigos,

mas contentei-me a ceifar somente os trigos

que surgiram à minha frente, sem misteres.

 

Foi sempre assim, esperei que me buscassem

e que deixassem bem claro o que queriam

e tais desejos muita vez nem percebi,

talvez por isso seus lábios meus se achassem,

pois se me buscam é porque de mim se fiam,

que uma ameaça eu nunca constituí.

 

NON SUM QUALIS ERAM IV

 

Trago uma estrela na palma de minha mão,

que dizem ser sinal de profecia,

especialmente se na esquerda reluzia

o talismã dessa esplêndida visão;

porém bem cedo me chegou desilusão,

ao perceber que na direita se inscrevia,

menos potente sendo tal magia,

por não se achar na mão do coração.

 

Mas ali está ela, bem clara e definida,

na mesma mão em que trago a letra A,

ao invés do M que os demais ostentam;

e muita vez, ao longo de minha vida,

eu escutei aquela voz: “Não Vá!”

quando algum dano os fados me portentam.