quarta-feira, 24 de março de 2021


 

 

DII MELIORA (*) I – 20 MAR 2021

(*) Que os deuses não permitam!

 

O altivo cínico troçou com ódio rancoroso

E o jovem epicurista, coroado de rosas.

Sorriu descrente, mas ao sorrir, estremeceu.

Praedios, “Atenas”, poema premiado.

 

Caso se leia o Gênesis com cuidado,

a verdadeira causa da expulsão

do Paraíso não foi a má alimentação

com o fruto do conhecimento condensado.

Ali se encontra claramente registrado

que Deus ou qualquer que seja esse guardião

encarregado de seu cuidado e proteção,

temeu que um outro fruto fosse achado.

 

Este seria o da Árvore da Vida,

que aos humanos daria a vida eterna

e murmurou: “Iguais a nós se tornarão...”

E assim os expulsou dessa guarida,

não pelo sexo, por ser bênção superna,

mas pelo tempo em que imenso viverão!

 

DII MELIORA II

 

Na verdade, o Primeiro Mandamento

foi o de “Crescei e Multiplicai-vos!”

bem antes da proibição ter laivos,

já possuíam os humanos esse alento.

Então por que foi proibido esse portento,

duas árvores no Paraíso colocadas

nesse jardim mas sem serem destinadas

à alimentação?  Por que o Conhecimento

 

foi proibido, mas a natureza humana

sendo criada para a desobediência?

O Fruto do Bem e do Mal tendo atração,

mas por que a Árvore da Vida não se irmana

em tal proibição de igual cadência?

Se permitida, atrairia menos atenção?

 

DII MELIORA III

 

Por que razão ali haveria um Tentador,

senão cumprindo ordens, qual nos diz

o Livro de Jó, nesse exemplo que nos quis

dar o antigo Sumério, seu autor,

sendo depois adaptado o seu teor

pelo canonistas da Bíblia, em ato gris,

nem Bem nem Mal mostrado em claro giz,

mais uma história destinada a criar Temor.

 

Que Deus nos prove sem razão real,

que ao Tentador conceda um tal poder,

que nos aflija com dor e provação,

só por que Jó seja um exemplo tão cardial,

em Deus confiando apesar de seu sofrer?

Quantos de nós uma tal fé demonstrarão?

 

DII MELIORA IV

 

Deus andaria pelo espaço sideral

e um universo lhe explodiu no olhar;

logo a pupila pôs-se a marejar,

nessa primeira manifestação do mal,

essa nublagem mostrando-se a inicial,

turvo ficando todo o seu criar,

por infinito instante o seu chorar,

falha causando em sua obra final.

 

E foi assim que se perdeu a perfeição:

Deus concebeu o pecado original

e nessa altura criou o sofrimento;

não foi a humanidade em sua paixão,

já foi nascida com imperfeição fetal

e o paraíso perdeu-se em tal lamento.

 

DII MELIORA V

 

Foi nesse instante que conceberia o Mal

e encarregaria de sua propagação

esse que dizem ser arcanjo até a ocasião,

Luciel tornado Lúcifer em dom fatal...

Lúcifer, o “portador da luz”, esse fanal

que deveria a nós trazer a iluminação,

mas pelo fogo nos traz clara punição...

Por que razão Jeová precisaria desse tal?

 

Certamente, sendo Deus Pai infinito

e abrangendo a plenitude do Universo,

não poderia o menor erro cometer,

mesmo em instante assim tão inaudito,

em que a luz explodiu no Pluriverso,

por um instante da onipotência se perder...?

 

DII MELIORA VI

 

Ou tudo isso apenas foi escrito,

como meio de proteção da hierarquia,

que esse tal Adversário conceberia,

inicialmente de caráter tão bonito,

para indicar-nos que no plano do Infinito

o Bem e o Mal possuem igual valia,

que num piscar de olhos Deus faria

um Universo imperfeito, mas bendito.

 

Já que perfeita só pode ser a Divindade

e a Sua imagem e semelhança possui falha,

um tentador conceberia em tal instante,

para impedir a perfeição da humanidade,

que sua vaidade constantemente talha

em um Pecado Original ainda constante?

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