SONETOMANCIA I – 28 OUT 21
Nem sempre me acho disposto a escrever.
Chega um dia em que faço dez sonetos,
em outros, mais até, questão de afetos
que em mim despertem a ânsia de o fazer.
Em certos dias, porém, este poder
se esvai por entre afãs menos secretos;
o trabalho me obriga; ou leio meus diletos
livros de estranhos ou de simples
descrever;
mas nesses sete dias, de entremeio,
que formam a semana, vinte ou mais
poemas se acumulam sobre a poeira.
E é de contemplar seu longo veio
que gostaria, às vezes, de não mais
aumentar essa já longa cordilheira.
SONETOMANCIA II
Nos dois últimos anos ou nos três,
infelizmente chegada a pandemia,
tenho buscado o que guardado se escondia,
para à luz apresentá-lo por sua vez.
Mas o problema se agrava a cada mês:
a cada vez que algum cartão relia,
as palavras me acometeram em folia
surgiram tantas que acho que nem lês...
visto que cada soneto que exumei
se completa com quatro ou mesmo cinco,
ficando os outros ainda sepultados.
E sem sombra de dúvida, já enviei
muito mais que tua paciência no seu vinco
teria lido, sem que sequer fossem
guardados!
SONETOMANCIA III
Mas não depende de minha disposição,
os sons percorrem as redes neurais
e então insistem por se tornam orais,
querendo ao mundo saltar, sem proteção!
Igual que ocorre em natural realização:
bilhões de ovos lançam sapos nos canais,
bilhões de ovas, em lentas espirais,
peixes recobrem para lhes dar fecundação.
A sua imensa maioria não prospera,
secam e morrem, são muitos devorados,
de um milhão sobrevive apenas um.
Mas se a uma alma sequer meu verso altera,
algo cumpri, pois se fossem conservados,
jamais ao mundo fariam bem algum!
GARRAFOMANCIA I – 29 OUT 21
Muitas pessoas, ao verem, se surpreendem
quando contemplam, a expressar admiração
ou complacência, se desinteressadas são,
esses veleiros que em garrafas se compreendem.
Muito maiores que os gargalos ali pendem,
dentro dessas garrafas para sua observação,
suas rolhas a vedar qualquer contaminação:
alguns se guardam, enquanto outros se vendem.
Na verdade, em minhas mãos eu nunca tive
qualquer dessas pequenas maravilhas:
vi muitas em filmes, na tevê ou em desenhos;
quando criança, até recordo que contive
o meu impulso de acariciar suas quilhas,
vendo os adultos a me franzir os cenhos!...
GARRAFOMANCIA II
Não foram muitas as que vi na realidade;
meu avô tinha uma e foi quebrada,
de permeio a brincadeira atabalhoada,
por um sobrinho de sua esposa (sem maldade?)
Um tio meio possuía outra, que por necessidade
foi vendida, por alimento a ser trocada
(mais de uma vez a sua vida foi truncada)
e era, afinal, tão só uma curiosidade,
que ele montara em atividades colegiais,
que então chamavam de “trabalhos manuais”,
disciplina que por tolice foi cortada;
a mim ensinaram a usar serrinha tico-tico,
mas em uma série de selos ainda fico
a admirar tal bugiganga ali mostrada!
GARRAFOMANCIA III
De fato, eu sei como se faz a miniatura,
sem nunca exercer uma tal habilidade;
em sonhos já avistei essa possibilidade
de navegar qualquer oceano de angostura.
Porque, afinal, a cristalina e pura
fímbria de seu horizonte sem idade,
equilibrada em qualquer ponto da cidade,
é limitada pelo escasso de sua altura...
Quais são os ventos que enfunam essas velas?
Quando empunha seu timão o timoneiro?
Quantas as ondas que se encrespam em marés?
Terão gargalo por comporta e por janelas,
seu bombordo e estibordo o derradeiro
rumo que toma, ainda a buscar perdidas fés.
ENERGOSSOMA
I – 30 JAN 21
Em
cientologia, essa estranha religião
que
pretende ser, de fato, uma ciência,
corpo
energético acredita-se ter consciência,
chamado
de conscin, sem que seja abstração;
é
o duplo etérico, se prestarmos atenção,
de
todos os chakras tendo a pertinência,
(*)
internamente
unidos em sua interpaciência,
mesmo
sem terem entre si penetração.
Não
são apenas uma aura circundante,
de
mil cores, qual da alma a que se crê,
nem
realmente um perspírito então se vê,
porém
algo material e bem vibrante,
que
alguns afirmam detectar em aparelhos,
sem
misticismo algum em tais conselhos.
(*)
Os sete centros energéticos do corpo.
ENERGOSSOMA
II
O
ser humano ente multidimensional,
composto
por vários níveis vibratórios,
físico,
etérico, do emocional sensórios,
mental
e espiritual. O corpo astral
seria
apenas uma criação intelectual,
simplificação
para neófitos inglórios,
o
corpo etérico uma ponte em peremptórios
oscilares
entre os sutis e o carnal.
Também
aqui se menciona o mentalsoma,
em
que a consciência tem o discernimento,
sendo
uma sede multiforme e bem real;
de
certa forma, esse conceito doma
essa
certeza de nosso passamento,
numa
fusão do mental e o material.
ENERGOSSOMA
III
É
bom não esquecer que a Teosofia,
no
século dezenove bem popularizada,
no
Brahmanismo estando enraizada,
de
todos estes corpos possíveis já dizia,
mas
sendo sete e não os cinco que queria
Rex
Hubbard em sua teoria consagrada;
cada
faceta deles tendo sido detectada,
por
experimento que científico chamara.
Naturalmente,
essa energia até podia
Ser
comparada ao Númeno, em total
potencialidade
de se medir o astral
ou
à Noosfera, qual Teilhard ensinaria,
a
mente inteira durante o sono a viajar,
até
o original de seu Fenômeno encontrar!