segunda-feira, 11 de outubro de 2021


 

 

O GIGANTE CANIBAL – 22 SET 21

Capítulo Terceiro

 

Assim o menino como seu criaram

e o chamaram de Teddy, igual

a seu pai adotivo e não contaram

a ninguém a sua origem, afinal.

Em isolação viviam quase permanente

e acreditaram seus pais serem realmente;

cresceu o menino de feições formoso,

robusto e ágil, louro e corajoso.

 

Bem que Eileen, conforme se chamava

a esposa do pastor, queria mudar-se.

Porém Teddy sempre a contrariava:

“Esse Krom nunca mais vai levantar-se

e estamos longe do alcance de sua mão,

o nosso monte nos confere proteção;

só não levo mais as cabras para o alto,

fico do lado de cá deste ressalto!

 

Mesmo que a história do menino não contaram,

mencionaram na aldeia aos moradores

a ocasião em que a garra contemplaram,

dormindo mesmo, a lhes causar terrores!

Teddy não queria ter muita vizinhança,

que os pastos fossem seus em abastança;

vasto ruído provocaria muita gente,

talvez despertassem a Krom subitamente!

 

Passaram-se assim outros sete anos;

todos acharam que o gigante já morrera,

da segurança a se gabar, ufanos;

Teddy da garra, porém, não se esquecera!

Um dia o menino saiu de sua casinha

e foi subindo pelo morro alegremente

e no caminho do pastor já se avizinha:

“Por que vieste até aqui, seu imprudente?”

 

Apesar do que prometera à sua mulher,

Teddy levara seu rebanho até o alto,

já sem sentir algum temor sequer,

se bem cuidando das patas o ressalto!

Disse o menino: “Eu estava só passeando

E queria encontrar-me com o senhor...”

“Mas não podes vir ao cume caminhando!

Sabes de Krom?  Não tens dele pavor?”

 

“Ora, o gigante é somente uma historinha

que me contam para que me porte bem!

A Mamãe a me afirmar toda noitinha

que eu dormisse bem quietinho também,

senão o gigante vinha me pegar?”

“Não, garoto, vi o gigante devorar,

anos atrás, tua mãe e teu pai

e se te arriscas, também te comer vai!”

 

“Mas Eileen e o senhor não são meus pais?”

“Nós te criamos e te amamos de verdade,

mas tens idade para saber mais:

vou te contar, na maior sinceridade.

Não te mentimos, mas como eras menor,

os dois achamos que seria melhor

esperar que tivesses mais idade,

para saber dessa terrível realidade!..”

 

“Eu estava aqui no cume, descansando

e vi um casal lá embaixo, os dois correndo,

imensa mão aos poucos se esticando,

levou teu pai primeiro, ainda gemendo!

Voltou de novo e tua mãe agarrou

e lá no alto da montanha devorou!...

Nós te encontramos no campo, abandonado

E te pegamos com o máximo cuidado!”

 

“De qualquer modo, acredito que o gigante,

desta vez, já realmente faleceu;

mas não é razão para seguires adiante:

temo por ti igual que fosses meu!...”

“Mas se meu pai não és de fato, de verdade,

mais razão tenho para vingar-me da maldade!

Se o gigante estiver vivo, eu saberei

e de algum modo, eu mesmo o matarei!”

 

Mas ao chegar em casa, concordou

que não devia por enquanto se arriscar.

A meia moeda de ouro lhe entregou

o bom pastor e Eileen foi-lhe mostrar

uma camisa que fizera com os panos

em que estivera enrolado e, sem mais danos,

passou o menino as duas coisas a usar,

mas com cuidado, para a camisa não rasgar!

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