sexta-feira, 22 de outubro de 2021


 

 

RESSURREICIONISMO I – 17 OUT 21

(Theda Bara, atriz do cinema mudo)

 

RESSURREIÇÃO É COISA BEM DIFÍCIL,

MAS SEGUNDO AS ESCRITURAS, É POSSÍVEL,

NÃO APENAS JESUS, QUE É COMPREENSÍVEL

QUE PODER TENHA SOBRE A CARNE FÍSSIL,

PORÉM DE PEDRO E DE PAULO ESSE ATO INCRÍVEL

É MENCIONADO COMO SENDO CONCEBÍVEL,

NOS ATOS DOS APÓSTOLOS É LEGÍVEL

QUE DOMINASSEM TAL PROEZA IMPOSSÍVEL,

MAS IGUALMENTE NO VELHO TESTAMENTO,

TANTO ELIAS COMO ELISEU REALIZARAM

RESSURREIÇÕES, EMBORA BEM ESCASSAS,

ALÉM DE QUE EXERCESSEM JULGAMENTO

E MUITO MAIS MORTES PROVOCARAM,

SEM VENDER RESSURREIÇÃO EM QUAISQUER PRAÇAS!

 

RESSURREICIONISMO II

 

HOJE EM DIA, OS RELATOS SÃO FREQUENTES

DE EXPERIÊNCIAS DO QUE CHAMAM QUASE-MORTE;

JÁ É COMUM QUE SE EXPERIMENTE A SORTE,

EM OPERAÇÕES PROLONGADAS NOS PACIENTES;

CORAÇÕES SÃO REATIVADOS POR POTENTES

ARTEFATOS CIRÚRGICOS E O ABORTE

É ASSIM REALIZADO DE OUTRA MORTE,

SEM INTERVENÇÕES DIVINAS APARENTES.

CONTUDO, PORQUE SÃO TÃO INSISTENTES

ESSES ANSEIOS DE NAO SE MORRER?

SEM MORTE, O CORPO SEGUE A ENVELHECER,

POR MAIS QUE CRIEM TRATAMENTOS COMPLACENTES

E CAPAZES DE CAUSAR ESSA ILUSÃO

DE UM REJUVENESCIMENTO EM OCASIÃO.

 

RESSURREICIONISMO III

 

JÁ AS ARTES MÁGICAS SÃO, NÃO OBSTANTE,

INCAPAZES DE REALIZAR O SORTILÉGIO,

NÃO HÁ DOUTRINA SECRETA OU FLORILÉGIO

QUE TRAGA À VIDA QUEM DELA ESTÁ DISTANTE.

E CERTAMENTE AINDA É ESPERANÇA DELIRANTE

RESSUSCITAR QUEM JÁ PAGOU O PEDÁGIO:

A SEPULTURA LHE COBROU UM FORTE ÁGIO,

DOS WALKING DEAD A MENTIRA É SIBILANTE!

LI DE UMA BRUXA, QUE CHEIA DE SAUDADE,

TENTOU TRAZER DE VOLTA AMOR PERDIDO,

PELAS RECEITAS DO NECRONOMICRON SECRETO;

COM O ESQUELETO DO AMOR, EM ANSIEDADE,

ATÉ DANÇAVA APÓS RECEITAS TER SEGUIDO,

MAS SEM A CARNE RESTAURAR DE SEU DILETO!...

 

CAPTURA I – 18  OUT  21

 

Às vezes, vejo a Palavra em um poema

ou imagem de livro técnico transcrita,

que sem qualquer porquê me inspira a escrita

de novos versos, com diferente gema.

 

De ser original conservo  o lema:

de plágio ou cópia evito a larga fita,

mas faço minha essa palavra assim bendita,

qualquer que seja a origem do fonema.

De forma alguma vou copiar alheia ideia;

contos de fadas até redijo em novo brio

e assim fecundo a Palavra vista ali.

 

E aqui confesso a razão desta epopeia:

eu vi num livro o comum termo “navio”

e vinte e quatro outros sonetos escrevi!

 

CAPTURA II

 

Por mais de década guardei originais:

há pouco tempo os fui ressuscitando,

nesta magia sem qualquer teor nefando;

eram rascunhos sem gozar os iniciais

 

momentos de suas vidas.   No jamais

das prateleiras jaziam meditando,

filhos do escuro todos se tornando,

até que um dia os tomei, de muitos mais.

Mas cada rascunho originou poemas vários,

três ou quatro, a cada soneto ressurreto;

vai-se o Escurial assim que enxergam luz.

 

E há tantos mais ocultos nos sacrários,

algum mais tolo e outro mais dileto,

que então entrego do digital à cruz.

 

CAPTURA III

 

Porém sonetos retirar da sepultura

não é, de fato, qualquer ressurreição:

nunca morreram, nascituros são,

não há milagre  nem sequer magia obscura.

 

O que existe é que sempre me perdura

esse ignoto que apelidaram inspiração

que de meu tempo me toma a profusão,

até mesclar-me com traços de loucura;

por mais que tenha o soneto esquadrejado

e com meus próprios dedos compassado,

não me parece que nada seja meu.

 

E me surpreendo e quase me revolto

pela insistência com que me sinto envolto

por tantos versos, qual Medusa de Perseu!

 

AEDO CONTRARIADO I – 19 OUT 21

 

Se permitir que me arraste a natureza,

torneira aberta em liberada eclusa,

do eterno lago a represada musa,

transbordarão em toda a sua grandeza;

tais versos não são meus, tenho certeza,

um outro espírito de minha mente abusa;

que não se tome apenas por escusa:

sou tão somente o escriba da beleza!

 

Quem me inspira acredito ser Dionyso,

do mosto o deus, senhor da embriaguez,

sem que seu álcool minhas artérias beatifique.

Aedo eu sou, mas as sendas por que piso

estão juncadas de mil sonhos de altivez,

a me exigir que a Palavra eu santifique!

 

AEDO CONTRARIADO II

 

Contudo creio que há muitos avatares,

talvez de Vishnu, ou de Apollo, pai das musas;

quiçá do próprio Phtah receba escusas, (*)

todo esse vinho a brotar de meus lagares,

versos felizes, outros cheios de pesares,

reminiscêncas das métricas mais lusas...

Ah, Noosfera, se de mim abusas,

dá-me energia para enfrentar tantos azares!

(*) Leia-se “Ftá” com F.

 

Nestes últimos meses, com meus olhos

fortemente afetados, qual paixão

me permite ainda cumprir esta missão,

que escolhi da Sansara nos escolhos?

Que hoje percebo que nada mais eu faço,

salvo com versos preencher meu tempo e espaço...

 

AEDO CONTRARIADO III

 

Antigos deuses a me trazer inspiração

nunca foram exclusivas entidades;

sãoa avatares a emanar de eternidades,

que as fontes brotam revestidas de ilusão

é um só Espírito, em tal manifestação,

seja o que for que entenderes por verdades,

quaisquer que forem tuas crenças ou impiedades,

são do Universo a constante vibração.

 

E se o alvo me tornei da longa obra,

de que em vão tento Pralaya provocar, (*)

só devo aos mil avatares gratidão;

dos poemas já perdidos só o que sobra,

vindo junto a minhas cocleias murmurar, (+)

em breve súplica por qualquer ressurreição!

(*) O Grande Sono entre duas eternidades.

(+) Núcleos nervosos cerebrais da audição.

 

 

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