quinta-feira, 30 de dezembro de 2021


 

 

O VELHO PROFESSOR

Capítulo Cinco – 31 out 2021

 

“Ah, não é nada, não se preocupe...”

“O senhor veio mais cedo.  Vou aquecer

o seu jantar...” “Olhe, não quero comer...”

“Mas o que houve? Nunca perde o apetite,

deve ser algo que sua mente ocupe,

nunca o vi antes seu jantar perder...

Quer uma sopa? Depressa vou fazer...”

“Não quero nada, Dona Martha, não se irrite...”

 

Mas a governanta insistiu bastante,

até que o professor lhe confessou:

“Fui hoje despedido pelo novo Diretor...”

“Mas de repente, sem razão, sem nada...?”

“Ganho aposentadoria até bem interessante,

mas este fato minha vida condenou,

sinto-me inútil por todo o meu labor,

minha obra toda sendo desprezada!...”

 

“Não fique assim, Professor!  Desanimado,

não há razão para tanta depressão...”

“Não estou deprimido, é a realidade,

eram minhas aulas que me mantinham vivo

e agora que me vejo dispensado,

eu me dou conta que meu velho coração

está vazio, só restou a inermidade:

eu precisava de permanecer ativo!”

 

E caminhou devagar até a estante,

em que guardava meio século de anuários,

com os retratos dos antigos estudantes,

a folhear cada livro amarelado...

“Para a senhora pode não ser interessante,

mas os conservo tais como sacrários,

eu recordo meus rapazes como dantes,

sei o nome de cada um aqui mostrado!”

 

Fechou o anuário. “Acho que vou me deitar,

para a hora do jantar ainda é cedo...”

“O senhor não vai ligar o seu radinho?”

“Ah, é verdade, transmitem O Messias...”

Ligou o aparelho, mas ficou sem escutar,

não conservava o oratório algum segredo

para arrancar de sua alma aquele espinho,

seu coração percorrendo tristes vias...

 

Mas de repente, a colcha retirou

e saiu para a rua sem chapéu,

nem sobretudo, no inverno rigoroso,

os pés pisando em cinco polegadas

de neve, mas o frio não o abalou,

nem o cinzor que recobria o céu;

foi caminhando com passo vagaroso,

até uma estátua de eras já passadas.

 

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