sexta-feira, 5 de novembro de 2021


 

 

ALMATÓRIO I – 1º NOV 21

 

Já se afirmou que todo o ser humano

É uma alma em corpo de animal,

Como uma forma de justificar o mal

Que todos nós cometermos cada ano.

Sem dúvida, nosso corpo causa dano

À nossa própria mente espiritual,

A exigir diariamente o material,

Em seu físico perpetuar de cada afano.

 

Precisamos de diariamente alimentar

A esse corpo e eliminar os seus dejetos,

Sempre a causar certo aborrecimento

E ainda nos é necessário respirar,

Vezes sem conta, em ofegos e afetos,

Tempo cobrando de nosso pensamento!

 

ALMATÓRIO II

 

E de igual modo, para a reprodução,

Existe instinto bem violento em nós;

Talvez se pense ir do prazer empós,

Buscando orgasmo na ejaculação,

Ou da mulher na mais suave contração;

Mas na verdade, a coisa é mais atroz,

A natureza é que se faz o nosso algoz,

Sendo o prazer só a medida da ilusão.

 

E ao mesmo tempo, toda a acumulação

De alimentos ou de bens para o futuro

Desperta em nós outro desejo impuro;

Como animais a guardar a provisão,

Assim o instinto mais nos leva a cobiçar

E nos impede nosso excesso partilhar.

 

ALMATÓRIO III

 

Já se afirmou existir o Animaltório,

Para onde irão as almas animais,

Sem poderem partilhar das celestiais

Alegorias do incenso e do cibório;

Não sei se pensam ser um purgatório,

Cada bicho a sofrer como as demais

Almas humanas, até pagarem seus fatais

Erros e culpas até o compensatório?

 

Ou será um limbo, qual esse lugar nefando,

Em que as crianças que não tiveram batizados

Irão sofrer mesmo sem ter quaisquer pecados?

Pobres dos bichos pressionados em tal bando!

Terão os insetos também um Insectório

E as bactérias seu próprio Microbiório?

 

QUANTICOTÓRIO I – 2 NOV 21

 

Fico a pensar por que razão necessitamos

De tantos corpos semiespirituais

Para nossas estruturas materiais,

Quânticos seres anunciando seus reclamos;

É de supor-se que nos assemelhamos

A essa série de aparições espectrais:

O que existe no da carne, nos demais,

Terá reflexos quais espectros humanos.

 

Aceito que isso que detectam ultimamente

São vibrações calóricas sem nada de anormais:

Todo ser vivo certa aura possui,

Mas sete auras a mostrar lucidamente,

Deveriam assemelhar-se quais fractais,

Sendo uma de outra projeções bem naturais.

 

QUANTICOTÓRIO II

 

Afirmado já foi que uma a uma

São descartadas durante a viuvez

Entre a alma e o corpo, porém certa vez

Algum astral para trás fique e reassuma

A característica que o material consuma,

Como leve assombração que mês a mês

Se dilui, caso energia não lhe dês:

É o que se invoca enquanto não se esfuma.

 

E em qualquer ponto de sua invocação

Pode até dar batidinhas ou mover

A Prancha Ouija, caso alguém se entregue

A seu controle, em vaga inquietação;

Mas também esta acaba por morrer,

Salvo quando rebel à sua alma se ligue.

 

QUANTICOTÓRIO III

 

Ainda é possível, que milênios perpassando

De um certo povo a invocar essa entidade,

Igual assuma alguma sombria identidade,

Não a que tinha quando ao corpo acompanhando

E muitos deuses assim foram se formando,

Como egrégoras a adquirir sua densidade,

Forjam gnômons tal personalidade,

Mais do que inconsciente coletivo se tratando.

 

E um tal deusinho talvez possa recobrar

Alguns dos corpos dessa setemania,

Com a energia dos féis a congregar;

Bem mais fácil que astronauta se afirmar

Que a raça humana assim controlaria

Em proteção ou qual reserva alimentar!

 

DUVIDOTÓRIO I – 3 NOV 21

 

Toda mentira sempre é verdadeira

Para quem nela crê; portanto, é

Fundamental para manter-se a fé

De que ideologicamente seja herdeira;

Das assertivas feitas em primeira

Vez por gente que não mais põe o seu pé

Na superficie da Terra, em cuja sé

Se embasa essa certeza derradeira.

 

Talvez a vida a negue totalmente,

Mas pouco importa, os dogmas ficaram,

De sua política, religião, filosofia

E se mantêm quase que impunemente

Nas mentes dos que um dia acreditaram,

Julgando ser a vida que mentia.

 

DUVIDOTÓRIO II

 

Toda verdade é sempre uma mentira

Para quem não a crê; desilusão

De quem convencimento traz na mão

E cujo ideal desprezo alheio fira.

Quem crer no logro, a conservá-lo mira,

A salvo de qualquer perturbação;

Julgam preciso conservar essa ilusão,

Crendo que o mundo é a seu redor que gira.

 

Porque que verdade dói.  Plena certeza

Existe neste adágio cristalino,

Quando destrói algum mundo imaginário;

E os pés oscilam perante tal fadário,

Ao pressentr também outra incerteza:

De ter a seu dispor servo divino!...

 

DUVIDOTÓRIO III

 

“O que é a verdade?”  Já Pilatos indagou,

Esse infeliz a quem a igreja condenou

A ser lembrado de forma negativa

Na redação que em nosso Credo registrou,

Porque Herodes nesse texto não se aviva,

Nem Anás ou Caiphás, em sempreviva

Lembrança que o Evangelho confirmou,

Mas a sua parte não foi ainda mais ativa?

 

Qual a intenção de se imputar a Roma

Toda a culpa desse antigo sacrifício?

Seria uma forma de absolver Judeus?

Quando os Apóstolos por nome se toma,

Não eram Maria, João Batista em seu ofício,

Todos do Povo a quem escolheu Deus?

 

AMORATÓRIO I – 4 NOV 21

 

Raro é o amor que se termina de repente,

Não com um simples estalo ou explosão

Que se transforme em feroz constatação,

É a pouco e pouco que se faz dolente;

A monotonia é feroz e constringente:

Não é apenas de um desejo a cessação,

Nem da nova de qualquer contestação,

É a vida a dois tornada adstringente.

 

Amor é fácil de sentir, mas a amizade

Que permite aceitar falhas alheias,

Sem pretender realmente reformá-las

Não se obtém com real facilidade,

Embora o familiar, com muitas teias,

Divergências possa abrandar ou conservá-las.

 

AMORATÓRIO II

 

O amor real se faz fraternidade,

Todo feito de constante aceitação,

É o mastigar de cada irritação,

Sem quebrantar o vínculo e a amizade.

Algumas vez há irritabilidade,

Em outras surge a mútua compaixão,

Enquanto os anos se escorrem pela mão

E pela mão de nosso par com igualdade.

 

Em outras vezes, são interesses em comum,

Desde os filhos até amor por um só jogo,

Ou algum parente mais velho que se cria,

Por leve amor ou sem motivo alguem,

Enquanto arde entre os dois um manso fogo

Que de outro modo nem se acenderia.

 

AMORATÓRIO III

 

Claro que existe também o costume

Ou interesses financeiros em ocasião

Ou há fortunas que divórcios quebrarão,

Mas sempre há contribuição ao mútuo lume;

Bem mais difícil que a lugar diverso rume

O par que mais vive em tal repetição,

Sem se dispor à total condenação

Dessas décadas em que a vida se consume.

 

Porem se nessa amizade se constrói

Respeito mútuo, interesse igual também,

Pouco importa a fria ausência da paixão,

Tanta coisa que em conjunto a gente mói,

Nessa argamassa que compõe o mútuo bem,

Por mais tranquilo que nos bata o coração.

 

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