quinta-feira, 9 de setembro de 2021


 

 

O GRANDE ERRO I – 7 SET 21

A maioria dos mortos por COVID

a contraíram em suas residências,

forçados por errôneas providências

a permanecer onde o vírus mais reside.

Dentro de casa a doença mais incide,

que ali os ventos têm menos potências,

ficam no ar os perdigotos em leniências,

são respirados facilmente em lide;

nas ruas os vírus que foram transmitidos

muito depressa tombam para o chão

e não são aspirados desta forma!

Que fiquem rostos em máscaras escondidos,

que com frequência se lave cada mão,

destanciamento social que seja a norma!

 

O GRANDE ERRO II

Mas se alguém julga que eu estou errado,

veja onde foi o contágio mais frequente,

onde mais faleceu a pobre gente,

veja a estatística que mostra cada estado;

foi em São Paulo e no Rio determinado

sair de casa só por motivo urgente

e foi nesses estados, justamente,

que foi o vírus mais disseminado!

No Rio Grande do Sul o contágio era menor

até que aqui o tal lockdown foi instituído

e logo os casos começaram a aumentar;

e no Amazonas a coisa foi pior,

onde a umidade tornou o vírus mais nutrido

para as pessoas poder assassinar!

 

O GRANDE ERRO III

Contudo, de que forma convencer

as pessoas a usarem em suas casas

essas máscaras de abjetas vazas

que já ao ar livre era difícil se querer?

Assim, quando vinhas da rua, sem saber

trazias o vírus e à moléstia embasas,

logo tirando as desagradáveis gazas,

para no ar sacudir o dom de morrer!

Também inutil sendo o tal de álcool-gel,

o importante ser lavar as mãos

com sabonete forte de antisséptico

e mais as roupas trocar nesse quartel,

sem transportar consigo em procissões

os soldadinhos do assassino séptico.

 

O GRANDE ERRO IV

É bem difícil se exigir que lave as mãos

nosso parente que entrou na residência

ou à visita que chegou em inocência

que seus calçados trocasse em ocasiões!

Que não se ofenda no aplicar dessas noções

ou conservar de sua máscara a aparência:

é preciso afirmar identidade com potência,

já que não mostra a maioria das feições!...

Assim não afirmo que tivessem a intenção,

porém que erraram, de fato, os governantes,

ao exigirem que as ruas se esvaziassem!

Mas da hecatombe os reais culpados são,

esses pretensos combatentes, nos instantes

em que as vítimas  exigiram se encerrassem!

 

A GRANDE SOMBRA I – 8 SET 2021

Entre o passado e o presente uma sombra recai,

entre o presente e o futuro existe luz;

o que lembramos do passado nos seduz,

mas raramente vera lembrança sai:

lembramos a lembrança que nos vai

modificar-se a pouco e pouco e se reduz,

ante a força do presente nessa cruz,

que tão depressa no passado também cai!

Mas o futuro, por nós desconhecido,

mostra um milhão de potencialidades,

cada qual delas girando mais brilhante

e quando o véu se faz interrompido,

é clara a sombra de tais irrealidades,

canais abrindo por várzea expectante.

 

A GRANDE SOMBRA II

Talvez porque essa sombra tão escura

recaia entre o presente e o que se foi,

é que a ausência do passado tanto dói

e sua lembrança tão frequente se procura;

mas a memória do passado é tão perjura!

Facilmente essa cortina o tempo rói

e para tapar-lhe os orifícios a gente mói

outras lembranças de feição mais obscura

e então se pensa que as falhas das memórias

foram serzidas com cuidadoso ardor,

mas qual o fio que empregamos no labor?

É um fio que agulhas puxaram peremptórias,

repuxadas então de outras cortinas,

que assim puídas também se tornam finas.

 

A GRANDE SOMBRA III

Será o contrário com as falhas do futuro,

que só se encontram na imaginação...

Será que existe a verdadeira rotação,

um devenir de giratório impuro?

Lembramos o que não houve e é inseguro,

mas que talvez, na recorrência da ilusão,

já tenhamos vivenciado em ocasião

e refletimos de um espelho o aço duro?

Quando tornamos, porém, à encruzilhada

que teríamos tomado da outra vez,

a sombra é clara, mais luminescência,

então tudo se repete – ou quase nada,

novo caminho a percorrer em insensatez,

no desmentido da eterna recorrência?

 

A GRANDE  FLORAÇÃO I – 9 SET 21

(Para Marta Negreiros Vianna)

Sempre as glicínias me anunciaram tempestade,

suas centenas de amentilhos arroxeados,

ao longo do jardim emancipados

e no terraço, em vistosa realidade,

o seu caramanchão em novidade,

após os meses de ramos desnudados,

enchem os olhos com reflexos embaçados

e a alma alegram em sua viçosidade;

porém logo a seguir chega o granizo

ou a saraiva, de pedras mais grosseiras

e ali derruba as florações inteiras;

ou então chega trovoada sem aviso

e as gotas violentas tudo arrancam,

tapete roxo sobre o piso me atravancam...

 

A GRANDE  FLORAÇÃO II

Mas este ano, por inusitada graça,

chegou a saraiva antes da floração,

os amentilhos apenas em botão,

sem que fossem arrancados em desgraça

e quando a chuva tombou em nossa praça

não desfolhou a inteira brotação;

de minha janela ainda vejo a multidão

de flores roxas a me encantar sem jaça.

E nem sei se deveria demonstrar

minha alegria por sua permanência:

e se algum serzinho maligno me lê

e então nova borrasca vem chamar,

cada galhinho descamando sem leniência

até que só no piso a flor se vê!...

 

A GRANDE  FLORAÇÃO III

O anseio pelo belo é um “sentimento

muito teimoso, que alarga o coração”,

querendo impor-nos amarga emoção,

“cabendo dor de apertado” desalento,

por “se saber que o canto” - encantamento

não se destina a nós, salvo ilusão,

que a flor é bela, mas por nós não tem paixão

e assim “impõe-nos seu distanciamento”.

Dizem que amor é então bela flor roxa,

que brota em qualquer fresta, num cantinho,

mas quando atrai um faminto passarinho,

só o acolhe, para o “fazer de trouxa”,

que entrega o néctar para ter fecundação

e um verso doce para o amor é extrema-unção.

 

Um comentário:

  1. Bom dia. William
    SEu texto é prenhe de verdades, sobre os erros cometidos na Pandemia com os cuidados e paliativos, e sobre os corações sofridos por amores fugidios e uns tanto esquivo. Parabéns

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