POLIFENISMO I – 9 AGO 20
Existe em insetos e alguns outros animais
a capacidade de real transformação;
parecem mesmo, perante a observação,
serem espécies diversamente naturais.
Desses o exemplo que se conhece mais
é o das formigas, cuja alimentação
conduz as larvas cada qual à sua função,
de acordo com as necessidades materiais
do formigueiro. As suas
potencialidades
vão sendo assim alentadas ou inibidas,
criam menores para serem operárias
e as que conservam mais capacidades
serão “soldados”, para
suas guaridas
defenderem das agressões mais várias.
POLIFENISMO II
Algumas, enfim, à reprodução destinam,
todas elas poderão virar rainhas,
com asas para um voo vão sozinhas,
até um orifício que na terra minam
ou em fendas de rochas e até se empinam
por entre as telhas e logo pequeninhas
saem dos ovos para atacar as vinhas
e alimentar as outras que ainda ninam.
Mas isto é irreversível.
Outros insetos
mudam de cor conforme a estação,
fenótipos vários, diversos os tamanhos;
mesmo os mamíferos do ártico diletos
trocam do pelo a nuance em proteção
ou de alimento obter maiores ganhos.
POLIFENISMO III
E sempre houve o gigante de olho só,
o Cíclope a que chamaram Polyphemo,
em boa parte imaginado como um demo
por humanos devorar sem qualquer dó.
De meus sonetos também a longa mó
revela aspecto bastante polifeno,
alguns maldosos e cheios de veneno,
outros complexos de até causar um nó
na gentil compreensão de seus leitores,
outros ainda eruditos ou sarcásticos,
alguns eróticos, sem serem pornográficos,
alguns expressam sentimentos cáusticos,
outros descrevem acontecimentos gráficos,
ingênuos outros na descrição de seus amores.
OS TRÊS IRMÃOS I – 10 AGO 20
Poucos recordam de Tíbulo, o
poeta
romano, que escreveu odes de
amor,
que da guerra combatia o estridor,
para viver entre os braços da
dileta...
“Louco é quem parte como veloz
seta
ao encontro da morte, não ao
calor
do corpo de sua mada ou ao
vigor
da vida em paz no lar que nos
completa!”
Louvava o campo contra a vida
urbana
e recordava, em sua melancolia,
a Idade de Ouro, pois assim
dizia
ser o tempo em que a guerra não
conclama
ao campo de batalha, em busca
de ouro,
cobiça a fonte de qualquer
desdouro...
OS TRÊS IRMÃOS II
Guerra, Cobiça e Luxo, três
irmãos,
três flagelos desprezíveis
igualmente,
cada um ao outro tornando mais
potente,
sem os demais, seus resultados
vãos.
Nos velhos tempos de suas
ilusões
nenhum exército existia,
realmente,
um coração de ferro tinha,
certamente,
quem primeiro a espada brandiu
em ocasiões.
“Porque não devem os ferreiros
ser culpados
só por que aos homens forjaram
as espadas,
que destinavam a combater as
feras,
nós que empregamos os objetos
fabricados
uns contra os outros, em lutas
acirradas,
a morte rindo, soturna em suas
esperas!”
OS TRÊS IRMÃOS III
“De fato a culpa pertence só ao
ouro:
não havia guerra quando em
copos de madeira
bebiam os filhos do fruto da
videira,
fermentado por seu pai em vasos
de louro.”
“Feliz do homem que aguarda,
sem desdouro,
entre seus netos, a visita
derradeira
de uma morte preguiçosa ante a
lareira,
sem ir buscá-la, veloz como um
tesouro!”
“Ali com outros Três Irmãos
conviverá:
o Amor, a Paz e o conforto de
seu Lar,
contra o Luxo, a Cobiça e a
fria Guerra...”
Não admira que já não mais se
falará
desse poeta gentil, ante o
louvor
das ferozes epopeias de sua
terra!...
A VIDA NAS MORTES I – 11 AGO
2020
A Morte somos nós, cercados
sempre,
que nos faz definidos no que
somos;
não é a Vida, de quem um dia
fomos
e já não somos mais, pois nós
mudamos
e a Morte para nós é o novo
ventre,
que nos torna finais em sua
certeza;
pode a Vida ser feia ou de
beleza,
porém na Morte enfim nos
transformamos
naquilo que vivemos para ser;
o quadro se completa em tal
momento
e nada mais consegue ser
mudado;
nós nos tornamos no que querem
ver
aqueles que ainda estão em
movimento,
simples retrato em porcelana
completado.
A VIDA DAS MORTES II
E se Tíbulo Poeta a distinguía,
qual na série que ontem
descrevi,
é que era jovem em seu tempo de
alali
e a Morte apenas de um lado
conhecia;
sem recordar que inda há
terceira via,
não nas batalhas que critica
ali,
nem a tranquila que deseja para
si,
mas a doença que a tantos
desvalia...
isso é até de espantar, quando
a malária
tanta gente massacrava dos
Romanos,
cuja fibra se esgotou pela
doença,
não por qualquer viciosidade
multifária,
nem tampouco pelos luxos
soberanos,
que tanto condenava em ingênua
crença.
A VIDA DAS MORTES III
Pois bem melhor até seria a
morte breve
num campo de batalha, em que os
feridos,
por “golpe de misericórdia”
eram banidos
para esse Orco, a quem ninguém
se atreve
em geral a mencionar, porém que
leve
em sua garganta os Romanos
falecidos,
cuja entrada no Fórum os
entendidos
até mostravam, para que o
sangue ceve
as almas que se encontram lá,
sedentas;
por isso de gladiadores os
combates,
um sacrifício aos deuses Lares
e Penates;
ali estando sacerdotes, em
litanias atentas,
lutas sangrentas destinadas a
abafar
o medo aos mortos que os
poderiam chamar.