sábado, 2 de janeiro de 2021



MISTÉRIOS PARA OS BOBOS


 ATLÂNTIDA, MAPA DE ATHANASIUS KIRCHER, 1669

 

MISTÉRIOS PARA OS BOBOS I – 8 ABR 20

 

O que surgiu primeiro, o ovo ou a galinha?

Qualquer idiota responde a esta questão,

antes dos galináceos, outras aves ali estão

e antes delas, já apareceu tartaruguinha...

o jacaré, o lagarto, a cobra mais daninha,

que ovos puseram desde sua criação

e antes deles os batráquios também são

de ovos nascidos, igual que uma tainha!...

 

Dos ovos a origem é multissecular,

os dinossauros de seus ovos já nasciam...

Só um tolo em tal pergunta se embaralha...

Pobre galinha, nem sequer sabe voar,

mas de outras aves seus ovos já surgiam,

com dura casca que o chocar não atrapalha!

 

MISTÉRIOS PARA OS BOBOS II

 

É como essa gente que esse vão mistério

da Atlântida comenta e até mesmo a localiza

em dez lugares, sem qualquer prova precisa

e mesmo um falso intelectual os leva a sério!

A explosão de Santorini tornou em cemitério

a civilização de Creta em Cnossos e além visa

Micenas e Tirinto, a transformar em rocha lisa,

lençois de cinza em um imenso despautério!

 

Mas Santorini fica perto, logo ali no Mar Egeu,

de forma alguma atingiria o Mar Oceano,

jamais a Atlântida misteriosa de Platão,

porém no oceano nenhum lugar se conheceu

em que arquipélago suportasse o reino atleano

e assim na América alguns até a buscarão!

 

MISTÉRIOS PARA OS BOBOS III

 

Contudo, há vinte anos se encontraram,

no Mar do Norte alguns restos imensos

de cidades de madeira em postes tensos

e artefatos que alhures não se acharam,

que em museu da Escócia se guardaram

na Noruega outro tem vestígios densos,

que o explorar do petróleo em vastos lenços

tal mistério trouxe à luz e o desvendaram.

 

O Mar do Norte para todos é evidente

que integra parte do Oceano Atlântico

e afundou há mais ou menos dez mil anos,

depois que a glaciação se fez de novo ardente,

em aquecimento global, igual que o mântrico

de que tantos nos profetizam grandes danos!

 

MISTÉRIOS PARA OS BOBOS IV

 

Durante a glaciação, o Mar do Norte

se achava realmente a descoberto,

só além das Ilhas Féroe o mar aberto,

o continente sob gelo em vasto porte,

transformado em um gélido deserto

e foi ali que a Atlântida teve a sorte

de se erguer para depois sofrer a morte,

voltando a água a deixar tudo coberto...

 

Madame Blavatska, dois séculos atrás,

já afirmava, em sua Doutrina Secreta,

da arcana Atlântida sua localização;

mas a resolução de um mistério nunca traz

prazer algum e a farsa é de novo ressurreta,

igual que um ovo quente para nossa refeição!

 

PERIGO I – 9 abril 2020

 

Encontrei em meus rascunhos um soneto

De décadas atrás, todo esquecido,

Como são muitos em que um dia havia crido,

Mas não me inspiram mais ardor dileto...

 

Fico a pensar em qual amor secreto

Me inspirou o sentimento ali contido;

Eu sei que foi real, mas desvalido

Ficou o poema, qual se fora um desafeto...

 

Causam as décadas tal solene desmazelo

Entre as memórias e sobre os pensamentos

E facilmente desafiam  os julgamentos.

 

Pois desusado vi que foi um tal desvelo

E no entretanto, mal aspiro essa fumaça,

Perdida para sempre em minha desgraça.

 

PERIGO II

 

Quem se perdeu de mim?  Nem tantas foram.

Até consigo repetir seus nomes,

Nessa cadeia das passadas fomes...

Por quem minhas faces levemente coram?

 

Algumas os meus sonhos ainda enfloram.

Por um vaidoso espero não me tomes!...

Mas tu, desconhecida, por que somes

Dessas cem recordações que à mente afloram?

 

Será que foi tão só um devaneio

E descrevi um rosto em que não creio,

Qual desejo realizado na alvorada?

 

Mas, por real que fosse, foi-se embora

Esse ato de amor, morto na aurora,

Que a luz de um dia reduziu a nada!...

 

PERIGO III  (29 jul 79]

 

Primeiro tu me adiaste um tal momento

Em que o esplendor jorrasse de espumante,

Numa centelha estrídula, inquietante,

Julgada a vinda do derradeiro instante.

 

Já se escoara o final do sentimento,

Ao me dizeres ao ouvido, numa rua,

Com a mesma voz que proibira toda nua

Ficasses em meus braços, como a lua,

 

"Eu quero agora, vem e vem depressa!"

E a carne à carne se ajuntou de opressa

E todo o corpo estrugiu de exultação,

 

Nesse ato de amor, tão triunfante,

Que ribombou em orgasmo rebrilhante,

Veloz como o bater do coração!...

 

PERIGO IV – 9 abr 20

 

E já nem sei, passado tanto tempo,

O que foi que me inspirou o sentimento,

Quem foi que me roubou o julgamento

E me levou a redigir tais versos...

 

Como a mente e o coração foram conversos

E nesses braços, meus líquidos dispersos

Se derramaram, nos atos controversos

Que me levaram à cor desse momento.

 

Nem o que representou ela pra mim,

Se nem consigo recordar seu rosto

E muito menos o nome que me deu!...

 

Porém, na época, foi importante assim:

Que reencontrei esse momento posto

No poema antigo que enfim reapareceu!...

 

“DE VOLTA AO FUTURO” I – 10 ABR 20

 

Nem sei o que me espera.  Estes rascunhos,

acumulados às centenas, foram

esquecidos de todo e nem ideia

eu mesmo faço do que escrevi então!

 

Foram somente sangue de meus punhos,

que malquerenças de proezas douram,

que transformaram a mágoa em melopeia,

na desistência falsa do querer-se em vão!

 

Porém me envolvo em estranha persuasão:

sei bem que posso escolher alguns momentos

destinados ao futuro em fragmentos...

 

Basta a limpo passar qualquer outra ilusão:

por meia hora governo os movimentos

desse meu barco sem leme em turbilhão!

 

“DE VOLTA AO FUTURO” II

 

Naturalmente, este título roubei

de um filme cult por tantos conhecido;

o conteúdo nada tem de parecido,

foi tão somente que do nome me adonei...

 

Mas uma longa controvérsia registrei:

esses rascunhos que tenho agora apaziguado,

o meu antanho a transportar para meu lado,

são do presente ou desse tempo que lembrei?

 

E esses todos a que atenção não dei,

mas que pretendo digitar em meu porvir,

são do presente ou são de meu futuro?

 

Desde o passado cá estão, muito bem sei,

mas no futuro muitos pretendo redigir

para o passado ou meu presente impuro?

 

“DE VOLTA AO FUTURO” III

 

Ora, nem sei se o futuro há de chegar:

eu fui futuro quando os rascunhei

ou sou passado depois que os digitei,

serei presente quando alguém os apreçar?

 

A todo dia vejo o presente terminar,

mas nestes versos o passado reencontrei:

de certo modo, de meu futuro retornei

para o passado que não pode mais voltar?

 

E nesse tempo que não consigo segurar,

para o futuro eu corro em disparada,

com mil papéis rascunhados na mochila.

 

E se acaso, no que há de vir, os digitar,

será o presente que vivi desde a alvorada

ou meu passado crepúsculo em tal fila?

 

            AMOR AO INGLÊS I – 11 ABR 2020

 

            Aulas eu dava com fé e entusiasmo

            no tempo antigo, antes de me aposentar,

e de uma aluna, certa vez, fui escutar,

que amava inglês!  Ela quase num orgasmo;

achei estranho e até de causar pasmo,

de inglês eu gosto, mas se alguma vou amar

é o português em que poemas vou vazar,

sem dar lugar a qulquer alheio espasmo...

 

Surpreendeu-me bastante o sentimento

que assim manifestou e sua mente percorria,

meu entusiasmo desta forma assimilado,

mas logo percorreu-me o pensamento,

que “amar inglês” era disfarce em que dizia

que ao professor desejava de seu lado...

 

AMOR AO INGLÊS II

 

Não há nisso sequer ponta de vaidade,

que amor por professor ou professora

é coisa assaz comum em toda hora,

porém se esfuma com bastante brevidade;

é muito raro existir perenidade

em tal paixão que o coração escora;

a tentação só ocorre nesse embora,

e não se pode aceitar com leviandade.

 

Alguns que conheci até tombaram

nessa armadilha, pensando em aceitar

e certamente se prejudicaram,

ainda mais hoje que de pedofilia chamaram

essa atração entre idades secular,

por razões que vagamente me explicaram.

 

AMOR AO INGLÊS III

 

Pedofilia designava antigamente

a atração de algum adulto por criança,

mas até onde minha memória alcança,

tinha outro significado, claramente!

Aos quinze anos, só muito raramente

uma menina não se tornou mulher;

só se a menarca não ocorreu sequer

e sua menstruação não se apresente.

 

Por isso, ao longo da história, é natural

que aos quinze anos casada já estivesse;

mas nos meninos maturidade tarde desce

e a atração pelos mais velhos é normal

e há milênios que transcorre pelo mundo,

sem merecer este apelido tão imundo!

 

AMOR AO INGLÊS IV

 

Contudo, numa escola é diferente:

nem professor nem professora há de aceitar

que essa atração se venha a completar,

que mais não seja, por ética, somente;

se bem que a sedução seja frequente

entre as jovens que se querem afirmar,

a seus mestres desejando conquistar,

e é aqui que esta vaidade está presente.

 

Sempre evitei embarcar em tal canoa,

tratando embora, com todo o meu carinho,

desentendido a me fazer, sem que, a toa,

confusa aluna assim pudesse machucar,

seu falso amor a orientar, devagarinho,

sem nem sequer meus sonetos lhe mostrar!

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