quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021


 

 

A CANÇÃO DO ESPERMA I – 7 DEZ 2020

 

Que se pode esperar de uma raça de assassinos

que apenas sobrevivem após matar irmãos?

Serão tais crimes só morticínios sãos,

sem ser massacre deliberado de meninos?

Não é a matança dos pobres pequeninos

de Belém, qual Herodes ordenou em ocasiões,

nem dos meninos judeus execuções,

por Faraó ordenada contra os inquilinos

que em escravos se haviam transformado,

ordenando às parteiras das judias

que só meninas sobreviver deviam,

cada menino a ser por elas sufocado!...

Não me refiro a tais anomalias,

mas aos processos que todos nós um dia criam.

 

A CANÇÃO DO ESPERMA II

 

Quando nascemos, sempre ocorre morticínio

de milhões de espermatozóides na corrida;

somente um leva aos outros de vencida,

metade morre durante seu longo declínio,

mas sobrevive apenas um no latrocínio

do óvulo a escolher quem ganha a vida,

os demais deixando à morte na sortida;

Qual o motivo que nos leva ao lenocínio,

que teria feito cada um de nós para ganhar

a oportunidade desse cone de atração?

Cada um de nós foi Caim nessa ocasiões,

tantos Abéis nesse dia a massacrar...

Na garantia de ocasional reprodução,

prodigaliza a natureza suas vastas difusões!...

 

A CANÇÃO DO ESPERMA III

 

De fato, eu sou injusto quando digo

que somos assassinos.  Toda espécie

lança uma teia de sementes que padece,

fração minúscula escapando do perigo;

veja-se o pólen das plantas: um abrigo

em tuas narinas a encontrar, onde perece,

o teu espirro a solitária prece,

que para o ar espana o seu jazigo...

Que seja então dos peixes a semente,

que até julgavam representar pureza:

a fêmea espalha ovas em incerteza

e o macho solta a sua em tal jacente:

sopa de peixes no fundo de algum rio,

sem que os dois juntos usufruam de algum cio.

 

A CANÇÃO DO ESPERMA IV

 

E quantos sobrevivem nesta teia?

a maioria simplesmente devorados,

antes que os pares sejam encontrados

e deste modo a Terra inteira se permeia

de um excesso semental tornado ceia

de bactérias e outros seres assexuados,

que por cissiparidade ou outros fados,

se reproduzem só em individual veia...

Mas a imagem não me cessa de assombrar:

quem o óvulo de tua mãe aconselhou,

para que do sêmen de teu pai a ti escolhesse?

E desse modo, quem de fato assassinou

os teus irmãos, que tanta vida se perdesse

e a tua somente para a luz incentivou?

 

TOCAIA FEMININA I – 8 DEZ 2020

 

Não é que canse a vida conjugal

pelo poder que nos traz monotonia;

bem ao contrário, sempre pressentia

um perigo à espreita em seu canal

e por mais que retornasse até o fanal,

nunca sabia que escolhos acharia,

se açoreada a vaza encontraria

pelo desdém, a tristeza ou o carnaval.

 

Ter mil parceiras até pareceria

para meu corpo excitação queimar,

mas em quantas acharia o azedume?

Inconstante essa estranha parceria,

com que não pude até hoje acostumar,

mas que ainda me afogue em seu perfume!

 

TOCAIA FEMININA II

 

Esse tipo de medo foi descrito

continuamente pela literatura:

até menciona ter vagina dentadura,

para o pênis mastigar em dom aflito!

Que à impotência conduzisse já foi dito,

na inexperiência de quem lê a partitura,

tanta tara, tanto tipo de loucura,

terror atávico em derradeiro grito!

 

Ou ao contrário, a edípica atração:

tomar a mãe após matar o pai!...

Ou ao contrário, o temor do pênis vai,

que cause dor pela defloração

e em consequência provocar a frigidez,

que tão oposta ao reproduzir se fez!...

 

TOCAIA FEMININA III

 

Não admira, porque a própria religião

firme associou o sexo ao pecado,

nossa mãe Eva assim tendo desvirtuado:

por que a serpente surge na ocasião?

Decerto Lilith já mantivera relação

com esse Adão do pó encapsulado...

Qual o motivo nessa cobra foi achado,

senão o temor do pênis na ocasião?

 

Mas se esses monges lá do Medioevo

não tivessem tanto medo de mulher,

sequer teriam mutilado os Mandamentos!

E ao paganismo anterior portanto devo

render um preito, sem condenar sequer,

tendo ante o sexo tão diversos julgamentos!

 

CAUSA MORTIS I – 9 DEZ 20

 

Não é a monotonia e nem rotina

que matam casamento, lentamente;

são as contradições, a amarga sina

de quem estava até com ele bem contente;

são as picuinhas que surgem diariamente,

essa necessidade onipresente

da contrariedade e da ironia fina,

que ela, sim, mastiga o mais paciente!

 

Esse prazer de puxar nosso tapete

quando menos esperamos, sem motivo,

apenas em função de se afirmar.

 

Esse joguinho de poder, vedete

da arma do sexo e o furtivo

prazer constante de ao outro dominar!

 

CAUSA MORTIS II

 

Por mais afirme não ser isso verdade,

toda mulher sabe o sexo empregar

qual uma arma para o próprio validar

de domínio, até mesmo sem maldade;

coisa bem natural já que a necessidade

bem mais no homem se vem manifestar:

se alguém possui o que outrem quer ganhar,

seu preço é posto com a maior facilidade!...

 

E se houver algum motivo, realmente,

que não seja tão somente por negaça

e o homem não o entenda, simplesmente,

 

mesmo quem nunca como arma o utilizou

se fez consciente desse valor de praça

e a partir de então sempre o cobrou...

 

CAUSA MORTIS III

 

Mas cedo ou tarde algures se achará

o que não se obtém no próprio lar;

não falta quem a arma vá empregar

noutro sentido e assim conquistará;

e se souber, a gentileza empregará,

mais importante mesmo que o sexuar;

se alguém assim gentil se demonstrar,

bem mais depressa o casamento acabará.

 

Não que eu restrinja isto só ao marido,

que seja ele sarcástico e dominador,

nem é preciso que empregue violência.

 

Pois nesse caso é a mulher que terá sido

inclinada a buscar alheio amor,

que espera a trate com maior decência!

 

VANÁDIO I – 10 DEZ 20

 

Já que me intrigam certos elementos,

será o Vanádio o próximo da lista;

por que me interessou nem tenho pista,

somente o nome encontrei em meus assentos

 

de títulos para definir os apontamentos

que alcançariam de sonetos a conquista;

mais outro sólido então aqui se avista,

mais outro ao chumbo mostrando ligamentos.

 

Manuel del Rey no México o descobriu,

no princípio do século dezenove;

este espanhol era um mineralogista;

ligá-lo ao aço então ele sugeriu,

em sugestão que bem rápido se aprove,

que a corrosão do ferro tem em vista.

  

VANÁDIO II

 

Do aço aumenta toda a tonicidade

e assim sua mecânica resistência;

combate o açúcar com máxima veemência,

da diabetes diminuindo a veleidade.

 

E no organismo ataca a tenacidade

do colesterol, que enfrenta com potência,

impedindo que a gordura em sua valência

veias e artérias a obstruir de opacidade.

 

É elemento essencial para microrganismos

que realizam a Fixação do Azoto,

processo que vai em amoníaco transformar

o nitrogênio do ar para os metabolismos

das plantas, sustentando cada broto

na fotossíntese que possa realizar...

 

VANÁDIO III

 

Mas hoje em dia tem mais função estética,

pois oxidações orgânicas modera

em nosso corpo e em parte nos libera

do envelhecimento precoce em pura ética.

 

Não é uma droga milagrosa nem profética,

mas o anabolismo por igual prospera, (*)

as debilidades igualmente recupera

e de infecções combate a dura séptica!...

 

para nós esse Vanádio é essencial

e na água doce estando dissolvido

é oligoelemento de fácil obtenção,

do nosso corpo constituinte natural,

por tanto tempo assim desconhecido,

apesar de tão benévola função!...

(*) Absorção dos Alimentos.


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