segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021


 MEU AMIGO ADHEMAR EM VICTORIA FALLS, SIMBOLO DE PERSISTÊNCIA!

 

PERSISTÊNCIA I – 23 NOV 20

 

Eu procurei, ao longo de minha vida,

mudar a educação, que ainda me pareça

ter sido errada, mas o sulco que se esqueça

permanece sempre aberto, ainda incontida

essa fome de levar-me à mesma lida

de ser o que não sou e assim não cessa

essa luta dos neurônios, por mais cresça

em mim resolução consciente e definida.

 

Por isso durmo pouco, antes que a garra

de um passado que incompleto demoli,

novamente me ponha entre suas presas,

mas para mim mesmo corto toda a amarra

das falsas crenças que tanto combati

e fortaleço diariamente minhas defesas.

 

PERSISTÊNCIA II

 

Mas certas coisas sempre permanecem,

umas que aceito e outras que não quero

e as que não quero mostram desejo fero

de retornar, por mais que elas se esquecem;

o meu consciente enfrentam e então descem,

ou melhor sobem, em pensamento mero;

de novo expulso, em julgamento austero

e as devolvo ao calabouço em que padecem.

 

Mas as que aceito, ainda busco cultivar,

qual tenho feito ao longo de minha história,

porém com seus parâmetros reformados,

dentro de ideais que hoje tenho consagrados,

por esse mínimo que assim possa recobrar

dos obscuros atoleiros da memória...

 

PERSISTÊNCIA III

 

Por certo já foi dito, antigamente:

“Deem-me a criança até os seus seis anos

e a conduzirei, segundo os planos

que concebi para ela calmamente”,

sendo a primeira infância coisa ingente

na formação de todos nós, humanos;

então se formam as certezas e os enganos;

desarraigados hão de ser dificilmente.

 

E por maior o esforço que se faça

por uma nova tessitura se compor,

sobem do fundo, em sediciosa traça,

certas insídias implantadas pelos pais,

de que temos claramente que dispor,

mas que te segum aonde quer que vais!

 

CONSTATAÇÃO FINAL I – 24 NOV 2020

 

Estando em fase de autorrevelação,

coisa que, no geral, busco evitar,

ninguém escuto aqui a me assoprar,

salvo os alvéolos que moram no pulmão;

eu já contei não ter tido a recepção

que o amor de mãe tende a manifestar;

outros interesses a costumavam ocupar

e não me deu a necessária aceitação.

 

Foi minha tia Caíta, Maria Clara,

que igual a mãe se comportou comigo,

nesse período em que mais precisava,

da própria mãe sendo o afeto coisa rara;

porém de fato, condená-la não consigo,

pois seu martírio é que me revelava...

 

CONSTATAÇÃO FINAL II

 

Era meu pai filho único de minha avó,

que com feroz ciúme a defendia

e se pudesse, nem permitiria,

seu casamento, preferindo ficar só

com ele; e de minha mãe não tinha dó.

Hoje uma coisa absurda eu contaria,

pois na noite de núpcias ela se queixaria

que seu colchão era duro que nem mó...

 

E por incrível que pareça, ela insistiu

em dormir nessa noite com o filho!...

Minha pobre mãe sentiu-se rejeitada!

E minha avó, anos a fio, interferiu

na persistência desse infausto trilho,

sem com a nora jamais ser conformada.

 

CONSTATAÇÃO FINAL III

 

Não sei se Alayde, minha mãe, a ela perdoou,

mas acometeu-a um câncer do intestino;

em sua velhice, teve Caíta igual destino,

e a meia-irmã, Lydia, tal mal também levou;

de todas as três foi Alayde quem cuidou,

fazendo a higiene, num perdão mais fino

que se verdadeiro fosse, em peregrino

amor cristão que a cada uma demonstrou.

 

Ao mesmo tempo, tivera boa educação,

bem preparada, era excelente pianista

e até sonhara em tornar-se concertista,

porém meu pai massacrou-lhe essa noção:

devia ajudá-lo em seu trabalho material:

não foi por mim que frustrou-se no final...

 

CONSTATAÇÃO FINAL IV

 

Porém depois que minha irmã nasceu,

teve sérios problemas na ossatura,

durante anos a usar quente armadura,

pois um colete ortopédico recebeu;

só imagino o quanto ela sofreu

e não me espanto que comigo fosse dura;

com minha irmã foi diversa a sua postura,

mas não me atrevo a dizer que a escolheu.

 

Embora aos poucos, tirasse meus brinquedos

e os desse a ela, que logo os estragava,

mas depois disso, já me deu mais atenções

e sem dúvida, me apoiou nos anos ledos,

em que então para a música me inclinava,

dedos artríticos a executar composições!

 

ESCOAMENTO I – 25 NOV 20

 

As pirraças da luz me molham o espírito,

me empurra a chuva, em voo bem traiçoeiro,

flutuo nas gotas, como em fresco travesseiro,

sou transformado em apenas mais um dígito

e é o vento que me empapa em peripático

desabrochar das ráfagas, fagueiro;

dessa epifania o solitário marinheiro,

não mais do que um paráclito patético!...

 

A luz ressoa em cada conjectura,

meus ossos lançam chispas de amargura,

sou uma pandorga anestesiada pelos sonhos,

flébil espectro aguardando a desventura,

enquanto a Terra se desfaz em conjuntura

e eu me desfaço em gárgulas risonhas!

 

ESCOAMENTO II

 

A água passa por mim, iluminada

e a luz feroz me percorre num momento,

cada gota a encontrar em mim assento:

sou o conduto final dessa enxurrada!

Só o vento me perturba quase nada,

qual se minha carne fosse duro impedimento

e a luz da chuva um torrencial portento:

a água em arco-íris dança de extasiada!

 

Eu sou a gárgula de minha própria catedral,

em minha boca mastigo Quasimodo,

em meus cabelos alicerço a Notre-Dame!

Que não me leve a mal esse ancestral,

do qual sei que descendo de algum modo

e que me agita em seu pessoal reclame!...

 

ESCOAMENTO III

 

Também ele foi poeta e foi famoso,

porém a vida ganhou com suas novelas,

na maioria realmente muito belas,

mesmo dos versos a se mostrar mais orgulhoso.

Mas que fazer, se nem sequer esse vaidoso

público parisiense, que podia compreendê-las,

não pagaria ao autor só para lê-las,

poesia sempre um investimento tenebroso!

 

Me satisfaço em ser somente escapamento

da chuva alheia dos mil versos de espanto:

por minha boca de gárgula corre a luz

e o vento, em frustração, percorre lento

meus membros monstruosos em acalanto,

enquanto esse coral de mortos me conduz!...

 

CÁDMIO I – 26 NOV 2020

 

O Cádmio é um sólido, metal de transição,

em combinação com o Zinco é encontrado;

por muito tempo sendo um isótopo julgado,

de águas subterrâneas pode ter obtenção,

mais da precipitação do Zinco ou sua destilação;

não é solúvel e assim se acha concentrado,

em plantas e animais, mesmo aves no mercado,

quando tóxico será se imoderada sua ingestão.

 

Mas é essencial para nossa corporal função,

Exatamente não se sabe como; sendo branco-azulado

como corante azul por Van Gogh foi empregado;

Friedrich Stromeyer o isolou e a sua obtenção

determinou para a soldagem e a galvanoplastia,

para pilhas, televisores e atômica fissão nos serviria.

 

CÁDMIO II

 

Seu nome vem de kadmein ou Calamina,

antigo nome ao Carbonato de Zinco aplicado,

em semicondutores igualmente é empregado

e finalmente até a padrão do Metro se destina,

que a Conferência de Pesos e Medidas determina,

tendo sido esse padrão assim classificado

como a linha espectral do elemento aqui nomeado,

em mil novecentos e vinte e sete, porém foi pequenina

 

a aceitação deste padrão, logo a seguir modificada,

mas nem por isso perdeu sua importância.

Oligoelemento biológico que nos é essencial,

mas consumido de uma forma imoderada,

como qualquer outra coisa em imbalância,

causa moléstias e mesmo pode ser fatal.

 

CÁDMIO III

 

Sempre se encontra em relação parcial

com a lenda de Kadmos, de Tebas fundador;

do alfabeto primitivo teria sido o criador,

filho de Agenor de Tiro e Teléfassa; na fatal

ocasião do rapto de Europa pelo Zeus real,

com Fênix e Cílix, seus irmãos, foi receptor

de uma ordem de seu pai, feroz senhor,

que não voltassem sem a irmã livre do mal.

 

Depois de realizarem os três longa procura,

desistiram e fundaram três cidades,

Fênix pai dos Fenícios, Cílix dos Cilícios;

O Oráculo o local adequado então apura

e Kadmos fortaleza ergueu de qualidades,

Tebas surgiu de Kadmeia nos resquícios.

 

CÁDMIO IV

 

Europa nunca pelos irmãos foi encontrada,

que Zeus na ilha de Creta estabeleceu

qual sua rainha e nessa terra concebeu

três semideuses pela semente consagrada,

Minos, Radamanto e Sárpedon; mas desvendada

por Hera a sua origem, aos três ela escolheu

para juízes do Hades, que logo os recebeu;

Zeus não  se opôs, mesmo estando disfarçada

 

sua aparência em touro... Cadmos matou um dragão

e com seus dentes semeou vasta plantação,

de que nasceram fortes guerreiros, os Espartos;

Cadmos serviu a Ares oito anos por tal infração,

Mas Zeus lhe deu Harmonia, em gentil compensação,

Que cinco filhos lhe gerou depois, em fáceis partos...

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