sábado, 15 de maio de 2021


 ANN BLYTH, NO CLÁSSICO 'A PEQUENA SEREIA'.

 

ASSÉDIO 1 –15 MAIO 2021

 

Olho ao redor e só vejo celulares,

mas por enquanto, não comprei nenhum,

minha esposa tem, cada flho têm algum,

tem a doméstica e os operários auxiliares;

mesmo meu neto, para seus jogos peculiars,

desde os três anos já se tornou comum

que prefira jogar e não queira mais nenhum

dos cem brinquedos que lhe comprei aos pares.

 

Mas eu não sinto de artefatos precisar,

o telefone jamais foi o meu vício

e pelo fixo tenho incômodo suficiente,

o tempo todo alguém artigos a ofertar,

eu reconheço ser esse o seu ofício,

mas nem atendo às chamadas dessa gente!

 

ASSÉDIO 2

 

O fato é que a constante intervenção

é só a ponta do iceberg a controlar

e a cada dia vejo mais se reforçar

com armas digitais o Grande Irmão.

Os telefones terem sempre à mão

pareciam a quase todos encantar,

a própria ideia de poder andar

a qualquer parte sem perder conexão!...

 

Foi como se um brinquedo se ganhasse,

mas o jogo capturou os jogadores

e o processo foi de fato além demais,

tanta gente sem que jamais se desligasse

dessa engrenagem de místicos poderes,

a lhes forçar padrões comportamentais.

 

ASSÉDIO 3

 

E nem ao menos as pessoas reconhecem

que se encontram agrilhoadas à cadeia;

racionalizam o impulso que os ateia

como eventos naturais que acontecem;

“É a vida moderna e nos aquecem,

temos notícias da mais recente veia,

fotografamos qualquer coisa que se leia

e a enviamos aos amigos que padecem!”

 

Mas tudo é apenas um golpe comercial:

“compre, compre, chegou o novo artigo!”

“Não saia à rua, sempre haverá perigo,

encomende por nosso vasto potencial!”

E o povo não se percebe escravizado,

por mais que seja com frequência aguilhoado!

 

ASSÉDIO 4

 

E agora que apareceu a pandemia,

as companhias se sentem abençoadas:

“que as vacinas nunca sejam completadas,

porquanto a gente mais e mais nos pagaria!”

“Não vou por aí!” – o poeta nos diria,

nem que sejam os meus atos condenados

por quem deseja bater papos furados:

sem celular, ninguém me alcançaria!

 

Até suspeito que o lucro cresceu tanto

que haja “forças ocultas” a insistir

que seja o trabalho só por via eletrônica,

tantas fortunas a reunir sob esse manto,

já são duas gerações a se iludir,

na sociedade a se tornar biônica!

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