sábado, 8 de maio de 2021


 

 

KAMMENOI OSTROV I -- 8 MAI 21

(Ilhas Kammeny, diante de St.  Petersburg)

Eu sou o portavoz dos mortos todos

e não tenho o direito de impedir

o que querem dizer ao ressurgir

através de meus dedos seus engodos;

não cabe a mim determinar os modos

como hão de falar, como sentir,

no breve despertar de seu dormir,

suas palavras vindo à tona desde os lodos;

se discordo ou concordo, não importa,

já que apenas retransmito o que me falam

e sua saliva escorre entre meus dedos,

enquanto a dor que os revestiu também me corta

e assim a porta abro aos que se calam,

para que contem ao mundo seus segredos.

 

KAMMENOI OSTROV II

Eu vejo as multidões, rostos cansados,

rostos robustos, cheios de entusiasmo,

rostos perdidos sob os tons do pasmo,

irmãos humanos, por que ideais levados?

Assim me chora o coração, ao ver passados

os desfiles dos mortos sem orgasmo,

as baladas dos vivos em marasmo,

vagos destinos em seus anos compassados.

Repetindo o roteiro, a vida os mata

e a morte a todos prende no seu elo

e de minha própria mente a dor expurgo,

observando como a luta se remata,

porque ao invés da foice e seu martelo,

contemplo as ilhas de São Petersburgo!

 

KAMMENOI OSTROV III

Desse modo, até deixei-me influenciar

por tantos monstros que vejo a meu redor;

as suas palavras malditas sei de cór,

e aboletei-me, portanto, a registrar.,

a minha Série de Monstros a integrar,

cada nuance aberta a meu dispor,

algumas mesmo que me causassem dor,

mas são humanas vozes e as devo compilar;

já foram ditas e a limpo estão passadas;

depois vieram os cânones estranhos,

que me causaram certa inquietação

e então greco-romanos a cantar,

de Hércules os menos conhecidos ganhos,

tudo descrito quais poetas que lá vão.

 

KAMMENOI OSTROV IV

Contudo é raro que tais vozes venham,

normalmente são poetas mais singelos

que me transmitem seus poemas belos

e os redijo que também outros os tenham;

mesmo essas ilhas que de mim desdenham,

que nunca as visitei, nem perto delas

cheguei a navegar e muito menos vê-las,

mas que me invocam pelos sons que engenham

os nobres russos delas descritores,

que bem souberam minha mente influenciar,

num sentimento de outro modo incrível,

mas sempre amei a tais compositores

e se os recordo neste paginar,

decerto é por seu toque do impossível.

 

RUSSKAYA DEVOTCHKA – 8 maio 21

Possível és tu, quando te vejo ao lado,

talvez não como eu queira, mas real,

nas impossíveis ânsias do sensual,

mais provável sem se ter concretizado

o meu maior desejo abandonado

já foi de há muito; tão somente ideal;

mas ao segundo desejo eu sou leal:

a te tornar feliz me hei consagrado,

porque amor tem que todo o amor demonstra,

em gesto de carinho e em fala terna,

quem ama e não revela em nada é crível

e assim só faço o que Píndaro remonstra:

“Não perder tempo buscando a vida eterna,

mas limitar-se à procura do possível...”

Nenhum comentário:

Postar um comentário