terça-feira, 4 de maio de 2021


 

 

Hércules em Roma 1 – 4 maio 2021

TEMPLO DE HÉRCULES VICTOR EM ROMA 

Outro gigante ostentando três cabeças

Perante Hércules inesperado apareceu,

Este um filho de Hefesto com Medusa,

Que pela boca até chamas soprava!...

Esses tricornes na mitologia não cessas

De encontrar.  Decerto este sucedeu

A algum dragão em antropomorfia escusa,

Que igual a si algum poeta imaginava!

 

A crítica moderna, geralmente,

Interpreta esses monstros ou dragões

Como sendo três tropas de guerreiros,

Fogo soprado por tal boca ardente

Como sendo o ‘fogo grego’ realmente,

Por catapultas colocados em moções

Os recipientes de óleo costumeiros,

Junto com pólvora ou outro comburente.

 

Hércules em Roma 2

 

Cacus morava no monte Aventino,

Consoante recordavam os Romanos,

Por carne humana a mostrar bom apetite,

Porém sem desdenhar carne vacum;

Ossos de gado demarcavam o destino

De sua caverna, mas ossos humanos

Enfeitavam a entrada em mau convite,

O piso da caverna algo incomum,

 

Feito de ossos de gente esfarelados;

E assim Cacus de dois touros se apossou,

Mais quatro vacas ou quatro vitelas,

Que pelos rabos todos seis puxou;

Hércules só deu falta dos roubados

Quando de seu sono pesado se acordou

E procurava em vão as rezes belas,

Até que o mugido de uma delas escutou.

 

Hércules em Roma 3

 

Cacus fechara a entrada da caverna

Com uma rocha de peso tão tremendo,

Que nem dez juntas de bois deslocariam,

Mas Hércules para um lado a afastou,

De Zeus descendo sua energia eterna

E ali enfrentou o tal gigante horrendo,

Cujos jatos de fogo o queimariam,

Mas com sua clava suas cabeças esmagou!...

 

Por sorte seu gado a labareda não assou,

Mas a Zeus sacrificou um de seus touros

E ali ele ergueu um grande altar,

Auxiliado por Evandro, que insistiu

E ao culto do herói também o consagrou,

Após achar na caverna alguns tesouros;

Não queria Hércules que o fossem adorar,

Mas no Aventino o seu culto persistiu.

 

Hércules em Roma 4

 

Alguns autores gregos contrariam,

Que esta história aos Romanos glorifica,

Que não foi Hércules que matou o tal gigante,

Mas Garanus ou Recaranus, um seu aliado,,

Um herói grego, tais autores insistiam!...

O rei Evandro seu domínio fortifica,

Não pela força, mas por saber constante,

Que da deusa sua avó teria herdado.

 

Sendo neto de Themis com um deus-rio,

Chamado Ládon e de uma ninfa o filho,

Nicóstrata, com o deus Hermes concebido,

Monogamia por deuses gregos pouco amada;

O rei Equamos, movido por seu brio,

Ao conhecer desse adultério o trilho,

Quis o nenê matar, foi foi-lhe escondido

E ao crescer, sua mãe lhe deu espada.

 

Hércules em Roma 5

 

Com a qual matou o seu suposto pai,

O rei da Arcádia, mas seu castigo inteiro

Foi banimento, pois não era um parricídio

E com um grupo de Pelasgos emigraram

Para esse ponto da Itália, no qual vai

Posteriormente se acampar o bandoleiro

Que a própria Roma fundou com fratricídio,

E um grande império aos poucos conquistaram.

 

Sessenta anos antes da troiana guerra

Pallantium fundaram sobre uma colina,

Que mais tarde foi o Monte Palatino;

Dali governou Evandro a Itália Central;

Nicóstrata adaptou as letras que encerra

O alfabeto pelásgico, e destarte origina,

Com mais consoantes, o alfabeto latino:

Para Carmenta trocou seu nome original.

 

Hércules em Roma 6

 

Já os Romanos afirmam, ao contrário,

Que do alfabeto foi Hércules o autor,

Que libertou Evandro da submissão

Aos Etruscos, abolindo o seu tributo;

De seu rei Faunus, no combate necessário,

Acabou por tornar-se o executor;

E mais ainda, que tomou nessa ocasião

A sua viúva, ou a filha, mesmo em luto.

 

E tendo sido bem-sucedida a união,

Gerou Latinus, pai de todos os Latinos;

Mas ainda isto os Helenos contrariam,

Dizem Latinus ser um filho de Odysseus,

Ou Ulysses, com Circe em comunnhão

E desse modo cantam diversos hinos

E novos versos os Gregos comporiam,

Mas sem sobrar espaço nestes meus!...

 

Fontes: Avienus, Apolodoro, Estrabão, Asclepíades de Mirtéia, Silius Italicus, Diodoro Sículo, Heródoto, Ovídio, Tito Lívio, Propércio, Virgílio, Plutarco, Verrius Flaccus, citado por Servius, Pausânias,

Aurelius Victor e Dionysios apud  Robert Graves

 

RETRATOS DA ALMA I – 4 MAIO 21

inversamente desse Dorian Grey,

cujo retrato somente envelhecia,

em algum canto da mente se acharia

outro retrato, que seria o nosso rei;

um tal retrato da alma, eu te direi,

todos os nossos malfeitos recebia,

nossas doenças e dores sentiria,

mas marca alguma na face encontrarei;

sendo de índole mais espiritual,

igual que espelho então se mostraria

e para o rosto natural refletiria

cada mangra que turbasse seu semblante

só aparecendo na face material,

toda a pureza a guardar no seu descante.

 

RETRATOS DA ALMA II

não saberei dizer se há mais justiça

em tantas rugas a te cortar a face,

que se no rosto da alma se estampasse

cada sinal de tua diária liça;

que se cobrisse a alma de preguiça

e teu rosto natural não se amalgasse,

que a defesa da alma disfarçasse

toda a maldade que teu peito atiça.

boa parte da humana decadência

não nos decorre de vícios ou demência,

mas tão somente da insistência no viver,

já nossos ossos tendo menor potência,

o sol e o vento a te roer a essência,

mesmo não sendo demasiado o padecer.

 

RETRATOS DA ALMA III

porém é certo que o corpo desce à terra

e se presuma que a alma suba ao céu;

pesado sendo em demasia seu véu,

talvez não voe além de alguma serra;

onde teu corpo em algum lugar se enterra,

ficaria a alma assim pairando ao léu,

pesada por demais, qual se um arpéu

a prendesse ao local que a carne encerra;

cada ruga da alma qual anzol,

descendo a velha em aparente juventude,

ao sepulcro em que não acha mais farol,

não seria bem maior nossa revolta?

nelhor que os traços da velhice não se ilude

e pode a psique ascender em luz envolta!

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