terça-feira, 11 de maio de 2021


 

 

Felinos 1 – 11 maio 2021

 

Eu vejo o mundo com diferentes olhos,

Mais o percebo pelo estranho odor

Ou pelos sons que escuto sem pavor

Ou por visões dispersas sem antolhos.

 

É mais com a língua que sinto esses refolhos,

Luz de minha luz em meu olhar sensor;

Percebo o mundo sem provar-lhe a cor,

Mas beijo do calor nuance e molhos.

 

A noite é minha, dos telhados dono,

Percorro quarteirões em desafio,

Enquanto durmo quase todo o dia.

 

Humano, só me escutas em teu sono,

Nessas imagens que para ti eu crio,

Se me acompanhas nas noites dessa orgia.

 

Felinos 2

 

Não nos beijamos, lambemo-nos somente

Ou nos farejamos, nosso conhecimento

Vem mais do gosto que do pensamento,

Vem mais do cheiro, forte ou redolente.

 

Urinamos pelos cantos, em pungente

Estertor amoníaco e em um só momento

Fica o local marcado em movimento:

“Aqui eu estive e meu olor não mente!”

 

Não pintamos quadros, por não termos mãos,

Sem fazer versos, porque a palavra falha,

Quase nem recordamos mesmo a dor.

 

Menores são que os teus, peludos corações,

Gozando a liberdade que se espalha,

De apenas à nossa vida dar valor!...

 

Felinos 3

 

Como eles saltam com agilidade,

Essas bolas de pelo indiferentes!

Ao amor dos humanos, exigentes

De sua atenção, sem grande lealdade.

 

Domaram os humanos, desde a idade

Em que os levaram ao Egito as gentes;

Seus olhares faiscantes, oprimentes,

Almas devoram, sem qualquer maldade.

 

Sobem ao alto do maior armário

E se empoleiram sobre os corações,

A noite bebem e comem os lampiões,

 

Pequenas almas lambendo o campanário,

Ficam à espreita do vento e na lufada,

Saltam às nuvens, em sua final jornada!


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