terça-feira, 25 de maio de 2021


 

 

OS OLHOS DA PRINCESA – 25 MAIO 2021

WILLIAM LAGOS SOBRE CONTO DE FADAS IRLANDÊS

 

OS OLHOS DA PRINCESA

CAPÍTULO PRIMEIRO

 

Quando na Irlanda reinava Brian Conners 32,

o grande rei de Knocknasheega, existia (*)

um de seus servos a treinar a falcoaria,

que tinha um filho e a sós viviam os dois,

porque o velho falcoeiro enviuvara

e ao filho Maugan ele ensinara a profissão: (+)

uma dúzia de falcões mantinha na ocasião,

quando um morria, logo outro se treinava.

(*) Leia Nocachiga  (+)  Leia Mógan

Eram falcões do rei.   O falcoeiro

somente tinha um que era só seu,

que ele criara desde o ovo que perdeu

a mãe falcão de seu ninho pegureiro.  (*)

Pensara mesmo em devolvê-lo ao ninho,

mas teve medo que a mãe o rejeitasse

e ao empurrar fora do ninho, se quebrasse

e assim guardou-o no maior carinho,

(*) Nas alturas

 

em uma bolsa de couro, junto ao peito,

até que, finalmente, o ovo chocou;

com muito amor o falcoeiro o alimentou

e o treinou para seu máximo proveito.

Peito Branco era seu nome, pela mancha

que lhe descia logo abaixo do pescoço;

nos treinamentos participava do retoço,

nas falcoarias do rei jamais o encancha.

 

Esses falcões viviam presos a correntes

e sempre que saíam do poleiro

capuz usavam e o rei ou cavaleiro

nos pulsos os levavam, as garras presas rentes

sobre luvas de malha de metal pousados.

Quando alguma ave de caça se avistava,

o proprietário o seu capuz tirava

e eram os falcões para os ares enviados.

 

Eles traziam no pescoço uma coleira

impossibilitados de comer a caça;

entregue ao dono, recebiam como graça,

pequenos pedaços, cortados da papeira

e o falcoeiro levava as presas no bornal, (*)

que eram servidas na mesa do rei;

não era só um divertimento, te direi:

a comida era escassa no tempo medieval.

(*) Saco amplo de couro

 

Mas Peito Branco era em casa conservado

e só caçava quando os demais dormiam,

tão bem treinado que correntes não o prendiam

e nunca era por coleira atribulado.

Quem o cuidava era o filho do falcoeiro,

aquele Maugan, então rapaz já alto e forte,

que na igrejinha tivera a boa sorte

de aprender a ler e a escrever, bem fácil e ligeiro!...

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