quarta-feira, 12 de maio de 2021


 

Felinos 4

 

Depois que eles alcançam o outro mundo,

Ficam à espreita de um novo manjar,

Como a carne impedirá o seu voar

Precisam de gosto mais leve e mais profundo.

 

Esse é o segredo de seu olhar jocundo,

Quando de noite o vemos rebrilhar:

É o olhar da tocaia a preparar,

É a espreita de um corpo moribundo.

 

Quando a alma sobe, é como uma criança

Inerme e fraca, mas cheia de esperança

De que algum anjo surja a lhe amparar

 

E é então que da nuvem salta o gato,

Abre os bigodes sem espalhafato,

Antecipando esse sabor que vai gozar!

 

Felinos 5

 

Por isso, não permitas em teu lar

Um desses assassinos inocentes,

Caso haja moribundo ou alguns doentes,

Que eles se aninham, prontos a espreitar.

 

Ao outro mundo passam, sem miar,

E lambem essas almas complacentes,

Estão fracas demais e a seus parentes

Nada podem dizer nem se explicar.

 

Até julgam que o gatinho é carinhoso,

Que é gentil em fazer-lhes companhia

E os saudáveis vão tratar da própria vida,

 

Sem saber que o sentinela é malicioso

E apenas se prepara, em zombaria,

Para o bote final na desvalida!...

 

Felinos 6

 

Há séculos demoníacos pastores

Nos acalentam e conduzem, complacentes,

Para ser de seus banquetes sortimento.

 

Não acompanham apenas estertores,

Pois são eles que provocam acidentes

Para levar a seus amos provimento.

 

E neste mundo, um aspecto gentil

Eles assumem, em tão meiga ilusão,

Que os humanos lhes abrem coração

E lhes dão o sustento em dom servil...

 

Igual que o gado que nos serve leite

Ou nos permite esquilar-lhes toda a lã,

Sem perceber que ao final de todo o afã,

Mastigaremos suas carnes com deleite!


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