domingo, 13 de junho de 2021


 

EM DEFESA DE KRIMISOS – 12 JUN 2021

 

Um certo número destes bons leitores,

Tanta coisa perlustrando, corajosos,

Considerou-se, por motivos religiosos

Ou simplesmente por nojo ou por horrores,

Ofendido pela história do deus-cão,

Por mais que fosse alvo de um aviso;

Estou ciente do solo que assim piso

E adverti a todos de antemão.

 

Porém a história deste exoticismo

Será bem menos chocante que parece,

Pois cada povo adora a quem conhece

E assim ocorre em tanto paganismo;

Mas vejam bem, que não havia zoofilia,

Os sacerdotes é que se aproveitavam

E às meninas inconscientes estupravam,

Com “Boa Noite, Cinderella” o mesmo se faria.

 

A diferença é que em outras religiões,

Os animais eram no altar sacrificados,

Seres humanos igualmente degolados,

Sua carne devorada permeio a libações,

Enquanto no arcaico culto siciliano,

Comiam a carne de seu próprio deus,

Outro cão sendo criado pelos seus,

No ano seguinte consumido em gesto arcano.

 

Não se afirmava haver ressurreição,

Estava claro que o cachorro perecia

E que seu sangue sobre o povo se aspergia:

Só se falava em reencarnação

E o fato de se dizerem descendentes

Do cão Krimisos, não era desusado;

Com frequência era algures afirmado

De aves descender ou de animais valentes.

 

Canibalismo sendo coisa natural

Em muitos pontos do Velho Continente,

Igual que os índios do Brasil comiam gente,

Menos por fome que por algum ritual;

Esse detalhe de aos poucos devorar

Tem seus ecos na América Central;

Em certos pontos ainda hoje é habitual

De uma vaca ou boi carne cortar.

 

O animal vivo assim se pode preservar!...

E quanto à escravidão, ninguém esqueça

Que os escravos, cuja venda nunca cessa

Europeus foram, por tempo milenar.

Assim ocorreu no tempo dos Romanos:

Escravos negros houve apenas no cinema,

Eram os brancos a então sofrer tal pena!

Aqui acredito ter reparado certos danos...

 

Mesmo no Egito eram os deuses animais

Com corpos humanos e é provável

Que em seus rituais, por razão imponderável,

Máscaras se usasse de formas naturais.

Mas o paganismo dos Gregos e Romanos

Era contrário a qualquer zoofilia;

Os mitos pelásgicos então se afirmaria (*)

Serem disfarces de seres sobre-humanos.

(*) Habitantes dos Bálcãs antes da chegada dos Gregos.

 

E lembre o caso do Asno de Apuleio,

O jovem Lúcio, transformado por feitiço

Em um jumento do mais perfeito viço,

Apavorado por não achar um meio

Que não o cruzassem com fêmea de jumento!

Até que, por milagrosa intercessão,

De tal destino livrou-se na ocasião,

Assim liberto do animalesco cumprimento!

 

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