terça-feira, 29 de junho de 2021


 

PARADOXO DO TEMPO X

28 junho 2021

Se assim guardar, em caixa pequenina,

Algumas sobras de tempo, dia a dia,

Quem sabe alcançarei a sincronia

De cortejar tranquilo a minha menina

E ao mesmo tempo, executar minha sina

De trabalhar no afã que traduzia,

As vinte e cinco horas diárias que queria,

Na longa faina que se descortina.

Nem é que eu queira no tempo viajar,

Eu só queria fazer que se ampliasse,

Que houvesse um mais de mim ao mesmo tempo

Em que me vejo sozinho a palmilhar,

Que outras tarefas assim realizasse,

Ou descansasse sem grande contratempo!...

 NA ILUSTRAÇÃO, ANNIE GIRARDOT E BRIGITTE BARDOT. JÁ VISTE ALGUMA FOTO RECENTE DELA? 

PARADOXO DO TEMPO XI

Se desse modo no tempo eu me retempo,

Só a meu tempo consinto e ele atravessa

As distâncias entre eventos, nesta espessa

Multidão de excitações que forma o tempo,

Meu inconsciente viverá nesse antetempo

Em que reside minha memória e nada cessa,

Onde comanda o espírito e não se engessa,

Em nivel multicor a alma do atempo;

Retemperado nessa atemporalidade,

Nessa têmpera brilhante da lembrança,

No tempo gasto nos lençóis da infância,

Sem envolverme no turbilhão da idade

Do tempo morto de minha antiga instância,

Para o tempo natimorto da esperança.

 

PARADOXO DO TEMPO XII

Assim traído o tempo, o tempo chora,

Na chuva temporã e em serodia,

O tempo dá-me o tempo de meu dia

E roubo o tempo ao tempo sem demora.

Minha têmpera incessante o tempo explora,

Pouco lhe importa o tempo da elegia,

É o tempo que não houve que me avia,

Dos caminhos não trilhados desse outrora...

 Assim quisera ter o tempo alternativo,

No espaço de minhas mãos trilhá-lo agora,

Tudo sabendo desse tempo que me trouxe,

Que qual mulher do tempo o tempo fosse

Tempo gentil de meu tempo redivivo.

Tempo de um beijo que nunca fosse embora!

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